Título: Cartadas por cargos no segundo escalão
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 16/03/2011, Política, p. 2

Disputa por postos estratégicos volta a mobilizar a base aliada. No PMDB, senadores tentam não perder terreno para os deputados da sigla O aviso do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, sobre a nomeação de Geddel Vieira Lima para a Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal (CEF) abriu a temporada de colheita dos cargos na base governista. No mesmo pacote, abriu-se o caminho para Sérgio Dâmaso, indicado pela bancada de Minas Gerais, comandar o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Orlando Pessuti será vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil. O chefe do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) também será mantido.

Dos cargos, nenhum foi de indicação direta do Senado, o que fez os parlamentares acenderem o pisca-alerta. Ontem, por exemplo, os senadores do PMDB fizeram uma reunião em que começaram a pensar formas de recuperar o prestígio político da Casa. O elenco de propostas inclui a mudança na tramitação de medidas provisórias. Eles reclamam que hoje tudo chega apenas para ser homologado, sem debate. ¿O poder político está com a Câmara¿, comentou o líder da legenda, Renan Calheiros (AL).

Embora esses dois temas ¿ tramitação de MPs e cargos ¿ sejam tratados de forma separada, alguns admitem nos bastidores que essa pode ser uma das formas de os senadores do partido recuperarem cargos perdidos para o PT e para a Câmara. O posto conferido a Geddel é exemplo. O ex-senador José Maranhão, candidato derrotado ao governo da Paraíba, constava como um dos nomes de indicação dos senadores peemedebistas para a Vice-Presidência de loterias da CEF. Palocci, no entanto, fez chegar ao PMDB que a presidente deseja limitar o número de políticos nos bancos oficiais.

Por ora pacificado, o PMDB aguarda uma série de outras indicações, assim como os demais partidos aliados. No caso do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), o partido cogitou inicialmente nomear o comandante, mas o PT bateu o pé e Dilma vai manter Roberto Schmidt, do Ceará. A presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Maria Fernanda Ramos Coelho, também continuará onde está.

Um dos desafios entre os peemedebistas agora é encontrar um lugar ao sol para o ex-governador da Paraíba. Os senadores da sigla acreditam que estão perdendo terreno e que os nordestinos ¿ à exceção do líder da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que manteve o diretor-geral do Dnocs, e do próprio Geddel ¿ estão a ver navios. Além de estar prestes a perder para o PSB a indicação do superintendente da Sudene (leia quadro), o PMDB ainda verá o ex-governador Iberê Ferreira (PSB) nomeado secretário nacional de Recursos Hídricos do Ministério da Integração.

Patrocínio Da lista inicial de 76 cargos preparada pelo PMDB, menos de dez foram confirmados, incluindo Henrique Meirelles na Autoridade Pública Olímpica ¿mais uma decisão de Dilma do que propriamente uma indicação patrocinada. O número pode parecer tímido perto dos 21,8 mil cargos de livre nomeação por parte da presidente, mas é significativo porque são os mais estratégicos.

Até mesmo o ministério da Micro e Pequena Empresa, que o PSB recusou no início do governo, agora é motivo de cobiça. O PTB planeja indicar para o cargo o senador Armando Monteiro Neto (PE), mas o PT tem outros planos. Desde que Paulo Okamoto, amigo de Lula, deixou o Sebrae, o partido busca uma posição para acomodá-lo. No meio da disputa velada, entra novamente o PSB, agitando o nome de Ciro Gomes, ex-ministro da Integração, hoje recolhido e fora do burburinho da política.

Ciro tem surgido na conversa como alguém no banco de reservas e que pode ser convocado para o governo, caso Dilma decida fazer uma reforma no primeiro escalão. Afinal, conforme o Correio antecipou há alguns dias, não são poucos os ministros que estão em ¿estágio probatório¿.

Agências ¿técnicas¿ Outra frente de disputa é nas agências reguladoras, onde Dilma já afirmou que deseja apenas quadros técnicos. Da parte do PMDB, o partido está focado na indicação para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), à qual gostaria de reconduzir Antonio Bedran. O PT planeja um representante paulista do partido. Os peemedebistas querem ainda duas diretorias da Agência Nacional do Petróleo (ANP), uma para indicação da Câmara e outra do Senado. Mais um motivo de litígio entre deputados e senadores se Dilma, como no caso da CEF, abrir apenas uma vaga à sigla.

Alfinetadas em Mantega Tiago Pariz

As reuniões entre a presidente Dilma Rousseff e seus principais ministros têm sido marcadas por cenas de constrangimento. O chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, costuma fazer comentários ásperos em relação ao titular da Fazenda, Guido Mantega, quando os dois estão na mesma sala. As alfinetadas seriam para expor uma suposta falta de comprometimento do colega na direção da equipe econômica.

Palocci gosta de enfatizar, mesmo na frente da presidente, que não dá para marcar reuniões durante as sextas-feiras porque é constante Mantega usar o último dia útil da semana para despachar de São Paulo, onde vive a família, e não de Brasília. Essa opção, segundo fontes do Palácio do Planalto, tem afastado o titular da Fazenda do convívio com a presidente.

Participantes dos encontros já chegam ao terceiro andar do Planalto prontos para o embaraço. O que mais ouvem é Palocci dizendo que precisa marcar uma reunião importante e emendando: ¿Desculpa, ministro, o senhor não pode, não é? O senhor vai para São Paulo na sexta¿, contam fontes com trânsito no Planalto, repetindo a frase do chefe da Casa Civil. Na sequência, o comentário usual é que a dita reunião ou decisão fundamental terá de ser adiada.

A fricção entre os dois chegou ao Congresso Nacional. Mantega tem sido tratado como o número dois da economia diante da falta de projeção sobre Palocci. O processo de desgaste do titular da Fazenda vem crescendo. Dilma ficou contrariada com o subordinado durante o anúncio do detalhamento no corte de R$ 50 bilhões nas despesas por considerar que ele, ao ser pouco explicativo, contribuiu para o ceticismo do mercado financeiro quanto ao comprometimento do governo com a tesourada.

Em alta Por isso, o principal interlocutor da presidente dentro da Fazenda tem sido o secretário executivo Nelson Barbosa, com quem realiza frequentes reuniões informais de fim de semana no Palácio da Alvorada para debater a economia. Na campanha eleitoral, Barbosa foi o principal conselheiro na área e tratado como coringa para ocupar qualquer ministério econômico, incluindo a Presidência do Banco Central. No fim das contas, por imposição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Barbosa teve de ser deslocado para o posto número dois da pasta e Dilma ficou com o ministro da Fazenda que substituiu Palocci em 2006, em meio ao escândalo da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Santos Costa.