Título: Crédito desacelera e fica em patamar mais baixo
Autor: Nascimento,Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/11/2008, Finanças, p. B3

São Paulo, 24 de Novembro de 2008 - Os indicadores gerais de crédito, previstos para serem divulgados amanhã pelo Banco Central (BC), podem apresentar estagnação ou até uma queda acentuada no crescimento, que hoje já não é mais realidade. O mês foi o mais afetado pelo recrudescimento da crise do subprime e, em conseqüência, da liquidez no mercado doméstico, que deteriorou o crédito. No entanto, os especialistas acreditam que esse movimento foi exagerado, em virtude da falta de confiança, e o crédito já está próximo da normalidade. Os analistas são unânimes também em afirmar que, por conta da sazonalidade característica dos últimos três meses do ano, geralmente aquecidos em função do 13 salário e das comemorações, somente no primeiro trimestre de 2009 será possível avaliar as reais dimensões da crise financeira mundial no crédito brasileiro, embora já tenham uma certeza que antecede a crise: o crescimento no ano que vem ficará em patamares menores ante o observado entre 2002 e setembro de 2008.

Nesse período, a expansão anual composta chegou a 24,8% e o estoque de empréstimos atingiu R$ 1,148 trilhão. "Em relação à desaceleração não há dúvida, mesmo porque o governo já vinha elevando os juros antes da crise para conter a inflação, o que deprime o crédito. A grande questão agora está na velocidade que a crise imprime nesse cenário, por quanto tempo ficará essa desaceleração e em qual patamar vai se estabilizar", diz Luis Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da Austin Rating, para quem os indicadores do BC referentes a outubro já devem mostrar desaceleração, mesmo levando-se em consideração a sazonalidade.

Para Santacreu, o primeiro trimestre do ano, também sazonalmente o mais fraco para a maioria dos setores econômicos, contudo, é o que dará a real noção dos impactos. "Vamos ver o quanto mais fraco ele ficará." O economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, endossa que a apreensão atual é em qual nível se dará essa estabilização, mas ressalta que uma expectativa de desaceleração no ritmo de crescimento é cenário positivo, já que em outros países, principalmente nos da Europa e nos Estados Unidos, o panorama é de recessão.

A última sondagem da Febraban, realizada em outubro com 30 instituições financeiras, indica uma certa estabilidade no crédito em geral no mês de outubro, em relação aos meses anteriores. "Há desaceleração no segmento de consignado e automóveis, mas que já vinha antes da crise e resulta até do forte aquecimento anterior do setor", afirma Sardenberg. Hoje, ainda percebe-se uma retração na oferta e demanda por recursos mais volumosos, em especial os destinados às empresas exportadoras, em função da escassez do crédito externo, e aos financiamentos de bens duráveis, como veículos, por conta do encurtamento dos prazos e dos juros mais altos, particularmente.

Segundo dados do setor, as vendas de automóveis (cerca de 70% são financiadas) caíram 2,1% em relação a igual mês de 2007 e 11% ante setembro. Outro setor que tem reclamado é o imobiliário, mas ainda não há estatísticas que apontem retração no crédito para este mercado. Conforme dados do BC, os empréstimos totais cresceram 3,5% nos dez primeiros dias de outubro, alcançando 39,1% do Produto Interno Bruto (PIB), mas as novas concessões caíram 13%. A sondagem da Febraban mostra que o crescimento do crédito ficará estável neste ano, mas no próximo crescerá menos, cerca de 18%, uma queda ante a previsão anterior, realizada em setembro, que apontava alta de 19% a 20%.

Santacreu lembra que hoje o principal "gerente de crédito e de vendas no Brasil chama-se Lula" (o presidente Luiz Inácio Lula da Silva). Preocupado com uma maior desaceleração da economia, e a conseqüente queda no nível de emprego, o presidente tem incitado à população não endividada a ir às compras, e tem utilizado toda a sua artilharia - entenda-se bancos públicos - para minimizar a falta de liquidez no mercado, com efeitos positivos. "Além da liberação do compulsório, o presidente pessoalmente tenta reduzir os efeitos psicológicos dessa crise que, ao contrário de outros países, vem entrando aqui pelas bordas."

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Iolanda Nascimento)