Título: Novo papel para a AL no governo Obama
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Fonte: Gazeta Mercantil, 25/11/2008, Internacionall, p. A11

Washington, 25 de Novembro de 2008 - Com a eleição de Barack Obama os Estados Unidos têm uma nova chance de revigorar seus relacionamento com a América Latina, segundo um novo informe que recomenda que Washington revise as políticas domésticas sobre drogas e tente uma reaproximação com Cuba. O relatório, compilado por proeminentes ex-legisladores dos EUA e da América Latina, e divulgado ontem pela Brookings Institution, diz ao o novo governo que coloque a América Latina no centro de sua tela de radar da política externa.

Entre as mais surpreendentes recomendações se encontra uma política em relação a Cuba quase que totalmente reversa. O relatório apóia a suspensão de todas as restrições sobre viagens de norte-americanos à ilha, promove maior contato com os diplomatas cubanos, e tira Cuba da lista do Departamento de Estado de governos patrocinadores do terrorismo.

"Isso poderá fazer com que a geração acima dos 40 anos de cubanos-americanos em Miami fique louca, mas existe uma geração inteira de cubanos-americanos que deseja mudar esse relacionamento", disse Thomas R. Pickering, diplomata de longa data e ex-subsecretário de Estado.

Pickering, que serviu como embaixador norte-americano em El Salvador, é co-chairman de uma comissão bipartidária que elaborou o relatório, junto com o ex- presidente do México, Ernesto Zedillo.

Os cubanos-americanos mais jovens, diz Pickering, estão menos interessados em isolar o governo Castro e mais interessados em melhorar as condições de vida de suas famílias que ainda moram em Cuba. Derrubar as barreiras entre Cuba e os EUA , diz o informe, permitirá que outras vozes se ergam lá. O relatório estabelece muitas outras medidas específicas e gerais, como a aprovação do Congresso para acordos de livre comércio com a Colômbia e o Panamá, e uma reavaliação da política americana contra o narcotráfico - guerra contra as drogas - que o documento condena por ter fracassado.

"Relutamos em levar isso em consideração nos EUA ", disse Pickering. "Não queremos ocupar o centro do palco; desejamos direcionar o foco para os lugares de onde a droga procede." Os esforços para erradicar a produção de drogas na Colômbia, Peru e Bolívia se tornaram menos bem-sucedidos à medida que os traficantes mudaram suas operações cada vez mais para o meio da selva, disse Pickering. Embora esses esforços devam continuar, ele acrescentou que os EUA precisam deter a demanda doméstica por drogas.

O número de viciados em heroína e cocaína nos EUA , segundo diz o relatório, não mudou muito desde meados dos anos 80, fato que atribui a um insucesso em reduzir a produção e à falta de eficácia da prevenção contra as drogas no país e dos programas de tratamento.

Zedillo disse em entrevista por telefone que o narcotráfico, alavancado pelo gigantesco e faminto mercado, se espalhou pela América Latina e já não pode ser considerado como um problema exclusivo da Colômbia, México ou Bolívia.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 13)(The New York Times)