Título: Ajuda do governo dos EUA pode chegar a US$ 7,4 trilhões
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Fonte: Gazeta Mercantil, 25/11/2008, Finanças, p. B3

Nova York, 25 de Novembro de 2008 - O governo dos Estados Unidos está preparado para conceder mais de US$ 7,4 trilhões em empréstimos em nome dos contribuintes norte-americanos, ou metade do valor de tudo o que foi produzido no país no ano passado, para salvar o sistema financeiro desde que os mercados de crédito entraram em crise, 15 meses atrás.

A promessa sem precedentes de recursos inclui os US$ 2,8 trilhões já embolsados pelas instituições financeiras, na maior reação a uma emergência econômica desde o New Deal, da década de 1930, segundo dados reunidos pela Bloomberg. O compromisso é muito superior ao único plano aprovado pelos parlamentares, o Programa de Ajuda a Ativos Problemáticos (Tarp, pelas iniciais em inglês), de US$ 700 bilhões, apresentado pelo Departamento do Tesouro do país. O empréstimo concedido pelo Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) na semana passada equivale a 1.900 vezes a média semanal dos três anos anteriores à instauração da crise.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, declarou nesta segunda-feira que seu governo poderá tomar outras medidas como as de apoio ao banco Citigroup para preservar o sistema financeiro, e destacou que sempre manterá informado o presidente eleito Barack Obama.

"Já tomamos esse tipo de decisão no passado, tomamos uma ontem e se for necessário, tomaremos novamente uma decisão deste tipo no futuro para preservar nosso sistema financeiro", declarou George Bush.

Socorro ao Citigroup

Na noite de domingo, as autoridades americanas socorreram o banco Citigroup, um dos mais abalados pela crise financeira, concedendo uma garantia de mais de US$ 300 bilhões sobre seus ativos em troca de uma participação em seu capital.

Quando o Congresso dos EUA aprovou o Tarp, a 3 de outubro, o presidente do Fed, Ben Bernanke, e o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, reconheceram a necessidade de transparência e supervisão. Agora, num momento em que as autoridades reguladoras comprometem muito mais recursos, ao mesmo tempo em que se recusam a revelar os destinatários dos empréstimos ou as garantias que estão recebendo em troca, alguns congressistas norte-americanos estão defendendo que os movimentos do Fed sejam restringidos.

Dinheiro de impostos

"Sejam empréstimos ou gastos, esses recursos são dólares de impostos que estão indo pelo ralo, e acabamos ficando com garantias sobre as quais não temos qualquer informação", disse o republicano Scott Garett, membro da Comissão de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados. "Chegou a hora de considerarmos que tipo de restrições vamos instaurar sobre o Fed para que os poderes voltem aos funcionários governamentais eleitos, em vez de ficar com os nomeados."

A Bloomberg News tabulou dados do Fed e do Departamento do Tesouro e da Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), órgão garantidor dos depósitos bancários nos EUA, além de entrevistar funcionários dos órgãos reguladores, economistas e pesquisadores universitários para apurar a plena dimensão da campanha de salvamento do governo.

O socorro inclui um programa do Fed voltado para a compra de até US$ 2,4 trilhões em notas de curto prazo, conhecidas como commercial papers, que as empresas empregam para pagar as suas contas, instaurado a 27 de outubro, e US$ 1,4 trilhão do FDIC para garantir empréstimos interbancários, inaugurado a 14 de outubro.

William Poole, ex-presidente da diretoria regional do Fed de St. Louis, localizado no Estado de Missouri, disse que dificilmente os dois programas gerarão prejuízos. O maior risco provém do socorro prestado a empresas tidas como "grandes demais para falir", disse Poole

O governo norte-americano empenhou US$ 29 bilhões para ajudar a concretizar, em março, a aquisição do Bear Stearns pelo JPMorgan Chase., sediado em Nova York, e US$ 122,8 bilhões além dos aportes programados pelo Tarp a fim de resgatar o American International Group (AIG), que já foi a maior seguradora do mundo. Ontem o Citigroup recebeu US$ 306 bilhões em garantias do governo para crédito imobiliário problemático e ativos tóxicos. "Não há dúvida de que existe certo risco de crédito nessas operações", disse Poole.

O deputado republicano Darrell Issa, também da comissão de serviços financeiros da Câmara, disse que há riscos ocultos nos programas que Poole considera seguros. "O que as pessoas não entendem é que não se trata da probabilidade de a exposição se tornar uma realidade, e sim de o que faremos se isso acontecer efetivamente", disse Issa. "Não há transparência nessas operações; quem pode então dizer que elas estão corretas?"

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Bloomberg News)