Título: Comércio com mundo árabe alcança US$ 17,3 bi
Autor: Salgueiro,Sônia
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/11/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 27 de Novembro de 2008 - O intercâmbio comercial entre Brasil e nações árabes passou ao largo da crise financeira internacional. No mês passado, quando o mundo já estava mergulhado em problemas, as exportações brasileiras para os países árabes cresceram 69% e as importações, 28%, comparadas a outubro de 2007. De janeiro a outubro deste ano, a corrente de comércio entre os dois mercados totalizou US$ 17,3 bilhões, montante 62% superior ao registrado em idêntico período do ano passado.

"É um resultado expressivo, tendo-se em vista que até outubro os embarques para o mundo árabe aumentaram 38% e os desembarques, 90%, ao passo que as exportações globais do País cresceram 27% e as importações, 50%", compara Antônio Sarkis Junior, presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), representante local da Liga dos Estados Árabes, que reúne 22 países independentes que adotam o árabe como idioma oficial.

Parcerias

Diante desse desempenho, o presidente da CCAB prevê que a corrente de comércio com o mundo árabe ultrapassará US$ 20 bilhões neste ano. "Acho que manteremos os índices de crescimento registrados até outubro", afirma. Ele acredita que as parcerias continuarão sólidas, mas recomenda muita atenção aos exportadores brasileiros em 2009. "Certamente eles enfrentarão maior concorrência no mundo árabe porque, com a desaceleração dos países mais ricos, todo mundo vai correr atrás de quem tem dinheiro, que é o caso dos árabes."

O aumento dos negócios até outubro, na avaliação de Sarkis, decorre principalmente das características do comerciante árabe. "Depois que adquire confiança, ele compra volumes cada vez maiores e dificilmente troca de fornecedor, porque gosta de constância", conta. Mas a Câmara tem uma boa parcela de responsabilidade na expansão recente do fluxo entre as duas partes, inclusive aproximando empresários brasileiros e árabes.

Feiras

Neste ano, por exemplo, empresas nacionais participaram de oito feiras internacionais realizadas em nações árabes. No momento, 37 companhias brasileiras expõem seus produtos numa área de 500 m na Big Five Show, evento do setor de construção que se encerra nesta quinta-feira em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. "Em 2003, quando participamos pela primeira vez da feira, levamos cinco empresas, distribuídas por 30 m ", relembra Sarkis.

O presidente da Câmara Árabe explica que o resultado obtido até agora é uma grande vitória para a entidade. Em 2005, lembra ele, a Liga Árabe estabeleceu como meta dobrar em cinco anos a corrente de comércio entre Brasil e comunidade árabe, então na casa dos US$ 8 bilhões. "Dois anos antes do prazo e em apenas dez meses superamos essa meta em US$ 1,3 bilhão", diz o dirigente.

Carne e combustíveis

No flanco das exportações, os países árabes compraram do Brasil de janeiro a outubro principalmente carnes (54% de aumento em relação ao mesmo período de 2007), minérios (+141%), ferro fundido, ferro e aço (+168%) e automóveis e suas partes (+24%). As vendas externas para a região totalizaram US$ 8 bilhões e o bloco árabe se firmou como um dos maiores compradores de carne de frango e de carne bovina do País.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), entre janeiro e setembro a Arábia Saudita constituiu-se no segundo maior importador de carne de frango do País, atrás apenas do Japão. No quinto posto do mesmo ranking de clientes estão os Emirados Árabes Unidos.

Na listagem de dez principais compradores de carne bovina "made in Brazil", cinco são árabes: Irã (3), Egito (4), Argélia (6), Arábia Saudita (8) e Líbia (10). "Existiam barreiras sanitárias, mas fizemos um trabalho conjunto com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e, de uns seis anos para cá, abrimos diversos mercados."

Apesar de a pauta estar muito concentrada em produtos básicos e semimanufaturados, o Brasil também exporta para os países árabes aviões - Jordânia e Arábia Saudita estão entre os maiores mercados de jatos executivos da Embraer, segundo Sarkis - e autopeças. No momento, a CCAB tenta aproximar a indústria brasileira de equipamentos médicos e odontológicos e clientes em potencial da Síria e Líbia.

As encomendas brasileiras seguem principalmente para a Arábia Saudita, que gerou US$ 2,1 bilhões em divisas para o País até outubro, Egito e Emirados Árabes Unidos (US$ 1,1 bilhão cada um), Kuwait (US$ 551,7 milhões) e Argélia (US$ 485,1 milhões).

Importações

No que diz respeito às importações, os produtos vêm principalmente da Arábia Saudita (US$ 2,4 bilhões), Argélia (US$ 2,2 bilhões), Líbia (US$ 1,2 bilhão), Iraque e Marrocos, cada um deles com US$ 1 bilhão em vendas ao Brasil. Sarkis informa que os combustíveis minerais respondem por cerca de 80% do que o País importa das nações árabes. Adubos e fertilizantes vêm em seguida, com 10%. "A importação de fertilizantes tem subido muito. Os países árabes do Norte da África são grandes produtores de fosfatos", diz o dirigente da Câmara Árabe.

De janeiro a outubro, as compras brasileiras de adubos e fertilizantes do mercado árabe totalizaram US$ 1 bilhão, marca 140% superior à de idêntico período de 2007. Pedras, enxofre, produtos químicos inorgânicos e plásticos são outros produtos muito importados da região.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Sônia Salgueiro)