Título: Bric deve aproveitar a crise para se fortalecer
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Fonte: Gazeta Mercantil, 27/11/2008, Nacional, p. A7

Rio de Janeiro, 27 de Novembro de 2008 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que os países emergentes, especialmente os que formam o Bric ( Brasil, Rússia, Índia e China) aproveitem, para se fortalecer, "oportunidades" que surgirem com a crise financeira internacional. "A Rússia e o Brasil, junto cm outros países, mas sobretudo China e Índia, têm condições de tirar dessa crise não lágrimas, mas oportunidades de fazer com que nossas parcerias sejam mais fortes", disse Lula em discurso após a assinatura de acordos de cooperação com o presidente russo, Dmitri Medvedev. A solenidade teve como palco a sede do Itamaraty no Rio de Janeiro.

"Essa crise, que nasceu no seio dos países ricos, é uma oportunidade para os países em desenvolvimento, responsáveis por 75% do crescimento da economia mundial, não deixarem que se prejudique seu crescimento econômico, a geração de emprego e a distribuição de renda", disse Lula.

O presidente destacou a necessidade de soluções "transparentes e eficazes" para a crise financeira mundial, conforme foi discutido pelo G20 (grupo dos principais países ricos e emergentes), no último dia 15, em encontro nos Estados Unidos. Ele destacou também que o momento é de evitar "tentações protecionistas" e de "trabalhar para a retomada da Rodada de Doha".

Por sua vez, o chefe de Estado russo reforçou que a crise não foi causada por países emergentes, mas ponderou que saídas para o problema não serão parte de um processo fácil. E lembrou que os países integrantes do Bric se encontrarão no próximo ano, na Rússia, na primeira cúpula do grupo, para discutir parcerias nas áreas econômica e comercial. Durante o encontro com Medvedev, Lula também agradeceu o apoio da Rússia ao Brasil, que postula uma vaga permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). "Nossos países concordam com a reformulação urgente das Nações Unidas. Ampliar o Conselho de Segurança é indispensável para garantir sua representatividade e eficácia", disse.

Lula e Dmitri Medvedev assinaram acordos bilaterais nas áreas consular, de tecnologia e de defesa. Um dos acordos libera de visto cidadãos brasileiros e russos em visita aos dois países.

Em seu discurso, Lula também destacou as parcerias no setor aeroespacial, com projetos para a base brasileira de lançamento de foguetes em Alcântara, no Maranhão, e na área da defesa, para desenvolvimento de equipamentos militares, entre os quais helicópteros de ataque. O presidente lembrou, no discurso, que a Rússia é o maior importador de carnes brasileiras, mas ressaltou que os dois países precisam ampliar a pauta de exportações para além dos produtos agropecuários. "Precisamos ir além das commodities, ampliando e incluindo nas nossas exportações produtos de maior valor agregado", disse Lula, destacando que existem oportunidades de parceria por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

"A Rússia poderia fornecer equipamentos paras as novas usinas hidrelétricas no Brasil", afirmou o presidente brasileiro, que também espera contar com a participação do país na construção de ferrovias e em outras obras de infra-estrutura.

Medvedev destacou que o Brasil é o principal parceiro da Rússia na América Latina e voltou a afirmar que o comércio entre os dois países tende a crescer. Este ano, as trocas superaram U$ 6 bilhões.

O chefe de Estado russo encerrou ontem a viagem de três dias que fez ao Brasil. Ele seguiu para a Venezuela, onde navios da Rússia realizam exercícios militares com tropas do país sul-americano.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Agência Brasil)