Título: Enchentes reduzirão em R$ 600 milhões o PIB do estado
Autor: Wilke,Juliana
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/11/2008, Especial, p. A8

Florianópolis, 27 de Novembro de 2008 - Santa Catarina não parou ainda de contar o número de mortes causadas pelas enchentes que se configuraram na pior tragédia registrada na história do estado. Até ontem no final da tarde foram registrados 97 óbitos 19 desaparecidos. O prejuízo na economia já tem cálculo preliminar e as perdas estimadas são equivalentes a um mês de paralisação total das atividades da indústria, comércio, serviços e agricultura. O Produto Interno Bruto (PIB) previsto para 2008 foi revisto de R$ 114,9 bilhões para R$ 114,3 bilhões, conforme levantou ontem a Secretaria de Planejamento do Estado com exclusividade para a Gazeta Mercantil.

Em 2007, o PIB catarinense foi de R$ 102,84 bilhões. A previsão para este ano era de crescimento de 5,3%. Com os estragos causados, a expansão esperada agora é de 4,8%. No ano passado, a participação do PIB catarinense no PIB nacional foi de 4,02%.

Ainda há 78.656 desabrigados e desalojados e começa a faltar água potável e comida nas prateleiras dos supermercados. No total, segundo a Defesa Civil, 1,5 milhão de habitantes foram atingidos, o equivalente a 24,8% da população catarinense. A escassez de alimentos provocou tumultos ontem nos locais de distribuição de cestas básicas em Itajaí. A população invadiu sete destes centros e entrou em confronto com voluntários. As Polícias Civil e Militar reforçaram a segurança para tentar conter a multidão em desespero. Segundo o coronel do Corpo de Bombeiros, Onir Mocelin, as mercadorias não são suficientes para suprir nem 10% dos desabrigados. Mais de mil flagelados arrombaram o portão e as portas do Maxxi Itajaí, da rede Wal-Mart. Levaram tudo o que puderam, incluindo aparelhos eletrônicos e utensílios. Outros dois supermercados que também estavam fechados foram arrombados na cidade.

Restrições nas vendas

Em Blumenau, não havia mais água mineral nas gôndolas dos supermercados. Nos postos, o combustível também começou a faltar. A orientação geral é vender 10 litros para cada motorista e em alguns estabelecimentos não havia mais gasolina comum. Na Grande Florianópolis, deve faltar cimento e concreto nos próximos dias, informou o Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon) em função da queda de barreiras e inundações em diversas rodovias que prejudicam a regularidade da entrega dos produtos. O Sinduscon recebeu a informação dos próprios fornecedores e de empresas do setor. A situação é mais crítica no litoral catarinense, onde vários municípios estão isolados.

Em todo o estado, oito municípios decretaram calamidade pública: Itajaí, Blumenau, Ilhota, Gaspar, Rio dos Cedros, Nova Trento, Camboriú e Benedito Novo. Outros sete estão em situação de emergência (Balneário Piçarras, Canelinha, Indaial, Penha, Paulo Lopes, Presidente Getúlio e Rancho Queimado). Oito municípios continuam isolados: São Bonifácio, Luiz Alves, São João Batista, Rio dos Cedros, Garuva, Pomerode, Itapoá e Benedito Novo.

Os principais acessos a diversas cidades estão bloqueados porque 11 rodovias estão interditadas por deslizamentos de terra ou alagamentos causados pela chuva. A situação mais crítica é a do km 235 da BR-101, em Palhoça, na Grande Florianópolis, cujas pistas devem ser liberadas apenas no sábado.

Há ainda 80 mil unidades consumidoras sem energia elétrica em todo o Estado, sendo 61 mil nos municípios de Blumenau e Luis Alves. De acordo com a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), os constantes deslizamentos impedem os trabalhos para restabelecer a energia e dificultam o início dos consertos em várias áreas atingidas. Ontem, Santa Catarina recebeu reforço de aeronaves vindas do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Na segunda-feira havia oito equipamentos (entre helicópteros e aviões) envolvidos nos trabalhos de salvamento e desde terça-feira um total de 29 aeronaves juntou-se à força-tarefa montada para minimizar o sofrimento da população atingida. São 23 helicópteros e seis aviões sendo utilizados nas regiões mais críticas e isoladas do Estado.

Trabalho coordenado

Duas bases estão coordenando o trabalho integrado, uma delas montada em Navegantes, no litoral, e outra pelas Forças Armadas atua a partir de sua base em Blumenau. De acordo com o capitão PM aviador Antonio Pinheiro, o trabalho continua sem previsão de encerramento e as equipes podem ser reforçadas caso a situação se agrave em função das condições metereológicas.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Juliana Wilke)