Título: Iraque sofre com falta de combustíveis
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Fonte: Gazeta Mercantil, 27/11/2008, Infra-Estrutura, p. C5

Iraque, 27 de Novembro de 2008 - A falta de combustíveis no Iraque (que detém a terceira maior reserva de petróleo do mundo) já prejudica a rotineira ronda policial nos oleodutos instalados no centro do país. Vítimas de uma turbulência político-administrativa entre os Ministérios do Petróleo e do Interior, esses policiais, encarregados de proteger as artérias vitais da economia iraquiana, patrulham a pé, recebem salários irrisórios, regressam para suas casas pedindo carona, e comem e bebem às próprias custas.

Ontem, em seu quartel-general, os soldados aproveitaram a visita relâmpago de dois generais norte-americanos para expor seus problemas com a esperança de que intercedam em seu favor perante o governo iraquiano. "Devido à falta de combustível para o gerador não tivemos eletricidade durante quatro meses. Tampouco rádio", se lamentava o coronel. "Para os 31 veículos dispomos de 20 litros de combustível por dia. Não temos combustível nem para ir de um posto de guarda a outro", acrescentou. Seus homens recebem como soldo "a metade do que cobra um policial. Se isso continuar, perderemos todos. Eles irão para o Exército ou para a Força Policial", advertiu.

Há seis meses os 31 mil homens da polícia do petróleo passaram a ser comandados pelo Ministério do Interior. Mas o orçamento não foi direcionado para eles, continuando nas mãos de seus controladores originais. "Esses rapazes são vítimas de uma confusão quanto as responsabilidades entre os dois ministérios", explicou o general norte-americano Michael Oates, comandante da região centro. "Não têm água potável, nem salários justos, e se movimentam às próprias custas. É preciso consertar essa situação", defendeu.

Nos 210 quilômetros de oleodutos pelos quais o coronel Shakir é responsável, no centro do Iraque, existem 42 postos onde uma dezena de homens montam guarda essencialmente estática. Um deles falou, pedindo anonimato: "Ficamos dois dias aqui e dois em casa porque é preciso buscar alimentos. Assim que puder, ingressarei na polícia, lá pagam US$ 700 por mês , o dobro do que recebo. E estão perto de suas casas, não como aqui, perdidos no meio do deserto".

O chefe da polícia do petróleo, general Hamid Abdala, assegurou que faz todo o possível para consertar a situação, mas até agora não teve êxito. "Tive uma reunião com o primeiro-ministro sobre esse assunto em 3 de setembro. Tirei fotos das cabanas sórdidas onde vivem os homens. Mostrei para todos os responsáveis, mas nada mudou. Em contrapartida, protegemos o principal recurso do país", protestou o general.

Receitas de US$ 600 milhões

Com receitas petrolíferas de US$ 600 milhões semanais , garantidas pelo petróleo que procede dos oleodutos, o que falta não são recursos, enfatizou o general norte-americano Franck Helmick. "Foi dada uma missão ao Ministério do Interior, mas esse não recebeu os meios para realizá-la. Há muito a fazer", assegurou Helmick, que afirma que irá solicitar uma reunião entre os dois ministérios para solucionar o problema.

"Era mais simples sob a liderança de Saddam Hussein", disse Helmick. "Se um oleoduto sofria danos, Hussein enviava seus homens ao povo vizinho e matava todo mundo. Assim as tribos garantiam a segurança das infra-estruturas para permanecerem vivas" comentou com sarcasmo.