Título: Lula se reúne com sindicalistas e faz balanço de medidas anticrise
Autor: Correia,Karla e Falcão,Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/11/2008, Política, p. A8

Brasília, 26 de Novembro de 2008 - Afinado o discurso dentro do governo federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reúne-se hoje com representantes de movimentos sociais e sindicatos para fazer um balanço das medidas adotadas como forma de enfrentar os efeitos da crise econômica internacional no País.

Três ministros - Luiz Dulci (Secretaria-Geral do Governo), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda) - falarão à platéia sobre programas sociais, PAC e política econômica, respectivamente. Lula fechará o encontro com uma forte defesa do modelo econômico adotado em sua gestão e muito criticado pelas mesmas entidades que escutarão sua fala. Anunciará, também, que não haverá lançamento de novos programas sociais federais, nos dois últimos anos de seu mandato.

O presidente encontrará uma audiência relativamente mansa, sobretudo da parte dos sindicatos, que colheram benefícios sem precedentes em seu governo, mas temerosa com a possibilidade de perda em postos de trabalho. Os sindicatos que representam empregados das montadoras de automóveis estão em alerta com os efeitos da crise, que podem levar a demissões em massa no setor caso as vendas de veículos não ganhem fôlego com as medidas de incentivo anunciadas pelo governo.

Não por outro motivo, a principal cobrança feita pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, diz respeito à convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Ainda não firmada pelo País, a convenção garante o trabalhador contra demissões, salvo em caso de justa causa. "O uso das demissões como forma de equilibrar as contas das empresas foi banalizado no Brasil", critica Nobre. "É uma prática que joga contra o desenvolvimento econômico e só tende a aprofundar a crise, enfraquecendo o poder de compra do mercado interno. Vamos cobrar do presidente Lula todo o esforço em políticas de manutenção do emprego".

Parlamentares ligados ao movimento sindical foram procurados e informados que a General Motors concedeu férias coletivas de dez dias aos funcionários da linha de montagem e para a segunda quinzena de dezembro funcionários do setor de manutenção de máquinas da Volkswagen vão entrar de férias coletivas.

No Congresso, a reaproximação de Lula com os movimentos é explicada como parte de uma tática para mostrar que o governo está fortalecido. Centrando foco na proteção da economia popular, o presidente quer fazer do encontro uma demonstração de força, posando ao lado dos movimentos enfileirados como aliados no Palácio do Planalto.

Quando questionados sobre o tratamento dispensado pelo presidente aos movimentos sociais e, especial ao sindicalismo, os governistas são unânimes em afirmar que houve avanços, como a medida que atrelou o reajuste do salário-mínimo ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e à inflação. Fazem, porém, questão de negar que a proximidade com um presidente que fez do sindicalismo seu berço político tenha sido motivo de apatia para cobranças duras e definição de uma política clara para o setor.

"Nossa preocupação desde início era evitar um sindicalismo chapa-branca", disse o deputado Paulo Rocha (PT-PA). "Não conseguimos emplacar nossa agenda e assegurar as discussões de bandeiras independente dos impactos para o governo".

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Karla Correia e Márcio Falcão)