Título: Emergentes irão se recuperar mais rápido
Autor: Hessel,Rosana
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/11/2008, Internacional, p. A12

São Paulo, 26 de Novembro de 2008 - O cenário previsto por especialistas brasileiros para a crise financeira e a economia global tem sido cada vez mais sombrio, principalmente para o primeiro e o segundo trimestre de 2009. No entanto, para os emergentes, há um alento na segunda metade do ano.

"A crise vai ser importante, mas muito mais curta nos países emergentes, que deverão presenciar uma retomada na curva de crescimento a partir do segundo semestre do próximo ano", avaliou o diretor de renda fixa e pesquisa macroeconômica do Unibanco Asset Management (UAM), Alexandre Mathias. "Ao final de 2009, os países emergentes vão ter retomado o crescimento e superando a crise", disse.

Na opinião do executivo, a crise deverá se prolongar nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos, onde deverá durar de dois a três anos. Ele prevê uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) mundial abaixo de 2% no próximo ano.

Mathias lembra que os países emergentes vão continuar a manter o crescimento da economia global. Ele prevê uma desaceleração nas principais economias asiáticas. China e Índia, superiores até a prevista há menos de um mês no relatório revisado do Fundo Monetário Internacional (FMI). O executivo estima uma variação em torno de 7% a 7,5% para China essas duas economias em 2009. "Em 2008, a Índia volta a crescer a uma taxa de a 8% e China volta para uns 9%", acrescentou.

No início do mês, o FMI cortou a última previsão de outubro, prevendo queda no crescimento de todas as economias desenvolvidas em 2009 e uma expansão de 2,2% no PIB mundial. O Fundo estima que, no próximo ano, China crescerá 8,5% e Índia, 6,3%.

Em meio à quase quebra do maior banco norte-americano e mais um novo pacote de socorro ao sistema financeiro norte-americano, Mathias acredita que o fator Obama poderá ser alentador na medida em que se constituir uma equipe econômica que consiga dar respostas melhores para a crise. "A administração norte-americana atual não tem dado boas respostas para a crise. Agora, ela já é grave o suficiente a um ponto em que não há nada que se possa fazer de milagroso. A crise econômica tem uma dinâmica que não há como escapar. A inadimplência vai aumentar e não há uma solução de política econômica que consiga evitar uma contração do PIB nos próximos meses", disse.

O quadro traçado para o Brasil é considerado por Mathias "um tanto favorável". Ele prevê uma desaceleração no PIB brasileiro para algo entre 2,5% e 3% em 2009, bem abaixo das previsões de 4% do governo federal. "Uma depressão nesse nível não é ruim e tenho a impressão que não será permanente."

"Os problemas do velho Brasil eram muito maiores do que os de hoje", disse a presidente da Standard & Poor's (S&P) no Brasil, Regina Nunes, que elogiou a macroeconomia do País. "Hoje o Brasil está mais preparado para enfrentar uma crise", acrescentou.

O diretor de pesquisa econômica do Citigroup, Marcelo Kfouri Muinhos, estima uma expansão de 2,8% para a economia brasileira em 2009 depois de um crescimento de 5,4% a 5,5% neste ano. "Haverá uma redução gradual na oferta de crédito e o governo precisa gastar melhor e investir em infra-estrutura para conseguir manter a competitividade no cenário global", disse.

Para o diretor do Citigroup, mesmo um novo pacote fiscal (de US$ 600 bilhões a US$ 800 bilhões) para irrigar o sistema financeiro americano não evitará a crise que se estenderá ao longo de 2009. "A economia americana ainda não registrou forte queda na expansão do PIB em função dos cheques de US$ 600 de reembolso tributário enviados aos cidadãos americanos, que acabou ajudando a manter o ritmo de consumo", avaliou. Para o próximo ano, a previsão de Muinhos é de um aumento ainda maior no desemprego nos EUA, cuja taxa deverá subir para 8% a 9%, e, se a crise se agravar, poderá chegar a 15%.

Muinhos, Regina e Mathias participaram ontem em São Paulo do seminário "O Brasil e a crise internacional: Prioridades para a ação", organizado pela Câmara Americana de Comércio (Amcham). Ao final do debate durante toda a manhã, os participantes concluíram que, para que o Brasil evite um impacto maior da crise e a supere de forma mais tranqüila outras que poderão surgir é necessário que, desde já, sejam feitos investimentos estruturais, especialmente em educação básica e em infra-estrutura. Esses dois itens são os pilares para a perda de competitividade do País em classificações globais como a feita pelo World Economic Forum, destacaram o professor da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda e o professor da Universidade de São Paulo, Jacques Marcovitch.

Durante o evento, o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Abdenur, elogiou o resultado da reunião de cúpula do G20, realizado no último dia 15 em Washington. "A agenda foi positiva", disse. Ele também destacou investimentos em educação e em inovação, a realização de reformas como a tributária, trabalhista e previdenciária, e uma política externa voltada para a diversificação das parcerias são algumas das ações que precisam ser colocadas na agenda interna do governo.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)()