Título: Crise reduz novas concessões de crédito e eleva taxas de juros
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/11/2008, Finanças, p. B1

Brasília, 26 de Novembro de 2008 - A crise financeira global afetou o mercado de crédito brasileiro em outubro, mês em que as novas concessões de financiamento no país recuaram 3% e os juros médios cobrados pelos bancos subiram 2,5 pontos percentuais. Dados parciais de novembro, porém, já sinalizam recuperação de novos empréstimos, ainda que a taxas mais salgadas, segundo o Banco Central.

No total, as novas operações somaram R$ 157,3 bilhões de reais em outubro, frente a R$ 162,2 bilhões em setembro. "Em momentos de crise, todo mundo se põe mais conservador. A oferta de crédito caiu e as famílias também retraíram sua demanda por crédito", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Para as pessoas físicas, a queda nas concessões em outubro foi de 3,5%, concentrada na retração dos financiamentos de veículos -que têm participação elevada no total e caíram 2,3%. O crédito para as empresas sofreu queda média de 2,8%, com os financiamentos para aquisição de bens caindo 0,7%, o desconto de promissórias, 11,1%, e o hot money (empréstimos de curtíssimo prazo), 4,2%.

A retração das novas concessões não impediu que o estoque total de crédito do sistema financeiro crescesse. Ao final de outubro somava R$ 1,186 trilhão, o que representa um crescimento de 2,9% sobre o resultado de setembro. E a proporção subiu para 40,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o índice mais alto da série histórica. Sem o efeito do câmbio, que valorizou 10,5% em outubro, o estoque de operações de crédito teria elevação de 2,2%.

Conforme disse o presidente do BC, Henrique Meirelles, o crédito vai voltando à normalidade. Dados preliminares mostram que até o dia 12 deste mês as novas concessões cresceram 5,7% ante igual período de outubro.

Juros

Com a crise, o mercado passou a praticar as mais altas taxas de juros dos últimos anos. A taxa média de mercado, durante o mês de outubro, chegou a 42,9% ao ano, o maior índice desde junho de 2006, quando foi de 43,2% ao ano.

Altamir Lopes explicou que os altos juros são resultado da aversão ao risco no atual momento de instabilidade. Recorrer ao cheque especial, por exemplo, custou juro de 170,8% em outubro, taxa que subiu ainda mais no começo de novembro, atingindo 174,2% ao ano.

Nos oito primeiros dias úteis deste mês, a taxa média de juro alcançou 45% ao ano, e não há muita expectativa que irá recuar, segundo Lopes.

A aversão ao risco pode ser medida pelos elevadíssimos spreads (diferença em pontos percentuais entre as taxas de captação e de repasse) de outubro. Nas linhas para pessoas jurídicas foram recordes em toda a série histórica os spreads verificados nas operações de hot money (47,1 pontos); desconto de promissórias (48,1); capital de giro (23,5); conta garantida (64,%) e vendor (8,9).

O spread médio do segmento de pessoas físicas havia chegado a 17,5 pontos percentuais (a mais alta desde janeiro de 2007) e subiu para 18 pontos em novembro.

"A elevação do spread é conservadorismo por parte das instituições financeiras", disse Lopes.

A taxa média de juro cobrada do segmento de pessoas jurídicas (PJ) chegou a 31,6% em outubro, a mais alta desde dezembro de 2005, quando havia atingido a de 31,7% anual. Para esse público, o cenário ficou pior com a chegada de novembro, quando a taxa média dos oito primeiros dias úteis do mês subiu 0,2 ponto percentual, alcançando 31,9% ao ano.

Já para o segmento de pessoas físicas , a taxa média cobrada em outubro foi de 54,8% (a mais elevada desde junho de 2006, quando chegou a 55,8%) e subiu um pouco mais em novembro, indo para 59,8%. O spread médio do segmento de Pessoas Físicas, que havia alcançado 39,7 pontos percentuais (perdendo apenas para os 39,9 pontos de janeiro de 2007), saltou para 44,5 pontos percentuais na parcial de novembro. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ayr Aliski com Reuters)