Título: Mulheres no poder discutem suas carreiras
Autor: Souza, Predo
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/11/2008, Vida Executiva, p. C7

São Paulo, 28 de Novembro de 2008 - O mundos dos executivos é conhecido por ser detalhista e por ter o cumprimento de metas como um de seus principais lemas. No mundo todo, são os homens que estão à frente da maioria das empresas. Afinal, a igualdade de direitos entre os gêneros é algo recente na História. Por isso, ainda há preconceitos quanto à capacidade das mulheres exercerem a função de gerentes, diretoras e presidentes de grandes companhias. Felizmente, a situação está mudando, conforme a discussão realizada ontem, em São Paulo, na segunda edição do Mulheres Empreendedoras. Organizado pela escola de negócio B.I. International.

O evento teve como palestrantes a executiva-chefe da incorporadora BN Corp, Sandra Ralston, da sócia-diretora da consultoria Mariaca, Patrícia Epperlein, da sócia-diretora da Troiano Consultoria de Marca, Cecília Russo, e da presidente da empresa de logística UPS Brasil, Nadir Moreno. O encontro contou ainda com a participação de 100 executivas, que assistiram às apresentações.

Ao comentar sobre os preconceitos do qual algumas gestoras são vítimas, Sandra lembrou de uma reunião que teve com um cliente. "O rapaz nem havia notado que eu estava lá. Ele não tinha a menor noção da minha função na empresa. Chegou até a me pedir um cafezinho." Ela explicou que, ao chegar à metade da reunião, estendeu a mão e entregou o seu cartão ao executivo, que ficou envergonhado com a situação. "Hoje, porém, temos uma ótima relação profissional", diz.

Segundo as palestrantes, o fato de as mulheres só terem conquistado os melhores postos empresariais há pouco tempo é um dos motivos que faz delas competidoras aguerridas. "Nós cuidamos de vários assuntos ao mesmo tempo com certa facilidade. Isso porque além de lidar com os negócios, também cuidamos dos maridos, filhos e dos problemas do lar", ressalta Cecília. Ao debater as particularidades de cada gênero, as executivas disseram que o homem dá prioridade a um problema de cada vez, enquanto as mulheres resolvem vários deles ao mesmo tempo. "Desde criança tive muita facilidade de fazer várias coisas simultaneamente. Eu estudava e assistia televisão ao mesmo tempo", lembrou Patrícia.

Outro ponto ressaltado foi a grande aceitação, por parte das mulheres, dos desafios que aparecem. "Para chegar no poder é necessário ultrapassar todos os medos", destacou Patrícia, ironizando que seu maior receio é falar em público e que estava tentando superá-lo durante o debate. Ela contou que está há 18 anos na Mariaca e que sempre teve muita facilidade para se comunicar, mas com grupos pequenos. "Quando eu tinha sete anos, meu pai mudou para a Alemanha.Não falava alemão, mas conhecia algumas brincadeiras e isso me ajudou muito. Depois fomos para a Inglaterra, e mais uma vez enfrentei desafios para me socializar na nova cultura, com sua língua e costumes", lembra. Para Patrícia, essa facilidade de comunicação, adaptada ao trabalho, foi um dos motivos que a levou ao seu atual cargo.

Mudança de cargo

A presidente da UPS Brasil, Nadir Moreno, era gerente de recursos humanos e área jurídica da companhia antes de assumir sua atual posição. Na função, ela acompanhava de perto o antigo presidente. "Ao ser nomeada, achei que seria fácil ocupar o cargo. Quando realmente comecei a trabalhar, senti o quanto era desafiador. Estava com medo do desconhecido", contou. Nadir ressaltou que a independência pessoal foi fundamental para que ela aprendesse, desde nova, a encarar seus medos. "Trabalhei muitos domingos da minha vida para chegar aqui. Abdiquei de muita coisa, mas tudo tem a sua recompensa", garantiu.

Segundo Nadir, a UPS Brasil tem 40% do seu corpo de funcionários composto por mulheres. Ela explica que o cargo de entregador é o único que tem 100% de homens. "Todos dizem que as mulheres não se entendem, mas eu me dou muito bem com minhas funcionárias", diz.

Em pesquisa da própria empresa sobre altos executivos de pequenas e médias empresas, a UPS Latin America Business Monitor (LABM), os resultados demonstraram que 63% das empresas trabalham ativamente para promover mulheres às posições gerenciais de maior responsabilidades. Porém, Nadir informou que um relatório da Conferência de Mulheres Líderes da América expôs que entre 25% e 35% das mulheres ocupam cargos gerenciais na América Latina. Dentro desse grupo, apenas 10% ocupam cargos de presidência e vice-presidência.

Por fim, segundo as palestrantes, existem dois tipos de vaidade: Uma relacionada à beleza e outra à posição hierárquica dentro de uma empresa. Nadir assumiu ser vaidosa. "Eu me sinto muito bem e fico mais produtiva na liderança", afirmou. Patrícia foi direta. "Vaidade de status é muito perigosa, pois a pessoa pode achar que não precisa mais por a mão na massa."

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7)(PEDRO SOUZA