Título: Confiança da indústria despenca
Autor: Saito,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/12/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 1 de Dezembro de 2008 - Com um maior número de empresas com estoques em excesso, a indústria de transformação sinaliza uma diminuição do nível de atividade em novembro. A crise financeira atingiu em cheio o Índice de Confiança da Indústria, que assinalou 84,1 pontos no mês passado, o menor nível desde julho de 2003, quando registrou 81,1 pontos. O resultado representa um recuo de 19,4% em relação a outubro, segundo sondagem realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com 1.112 empresas. "A variação é a maior queda mensal da série iniciada em 1995", disse o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da FGV, Aloisio Campelo.

Na avaliação do economista, o forte recuo do índice está relacionado a uma situação conjuntural de menor disponibilidade de crédito, que pode se atenuar nos próximos meses com as medidas adotadas pelo governo de injeção de liquidez. "É uma queda de choque e isso deve se reverter com o melhor acesso ao crédito, mas a mensagem da redução da confiança da indústria é que há uma tendência de gastos e investimentos menores."

O Índice da Situação Atual (ISA) caiu 22,2% entre outubro e novembro, passando de 109,7 para 85,3 pontos - o pior nível desde junho de 2003 (73,4 pontos).

Na mesma comparação, o percentual de empresas que afirmaram estar com estoques excessivos avançou de 7,9% para 15,7%, enquanto a parcela com produtos insuficientes armazenados passou de 2,9% para 0%. Com isso, o indicador de nível de estoque caiu 3,6% para 84,3 pontos, patamar que supera apenas o índice de 84 em outubro de 2003, quando a economia estava saindo de uma recessão. No período, os estoques eram excessivos para 19,9% dos industriais e insuficientes para 3,9%. "Hoje, há um acúmulo de estoques causado pela desaceleração abrupta da demanda de bens industriais."

Segundo o economista, esse movimento é mais forte nos segmentos de mecânica, material de transportes, celulose e metalurgia. Nos quatro casos, o percentual de empresas com estoque insuficiente não passa de 1%.

Na indústria mecânica, entre outubro e novembro, houve um salto de 5% para 24% na proporção de empresas com excesso de mercadorias estocadas. Na metalurgia, esse percentual aumentou de 12% para 17%, enquanto o setor de celulose registrou avanço de 9% para 16%. A elevação foi expressiva em material de transportes, que inclui a indústria automotiva. No segmento, para 32% das empresas, os estoques estão excessivos, contra 9% há um mês.

Metalurgia, mecânica e material de transportes também são segmentos em que a maior parte dos empresários consideram fraco o atual ritmo de consumo interno. Na indústria, em geral, o índice do nível de demanda interna recuou de 110,8 para 76,3 pontos de um mês para o outro. A parcela de empresas que disseram que ela estava fraca passou de 11,6% para 29%. Apenas 5,3% afirmaram que a demanda interna estava forte, contra 22,4% em outubro.

Entre as empresas do segmento de metalurgia, esse percentual caiu de 27% para 4%. A maior parte (59%) considera a demanda interna fraca, resposta dada por 19% no mês anterior. Na mecânica, ela continua forte para 4%, inferior aos 14% de outubro, e fraca para 53% dos empresários, percentual que era de 20% há um mês. Em material de transportes, o percentual de industriais que consideram a demanda interna forte caiu de 38% para 1%, enquanto a parcela que afirma que ela está forte aumentou de 1% para 59%.

O índice de demanda externa manteve a trajetória de queda, passando de 87 para 75 pontos na comparação mensal. "É o pior nível desde janeiro de 1999, quando ficou em 70 pontos, disse Campelo. Cerca de 30% das empresas consideram a demanda externa fraca, contra 18,8% em outubro.

A sondagem da FGV mostra ainda que a indústria está mais pessimista em relação ao cenário para os próximos meses. O Índice de Expectativas (IE) recuou de 99,2 para 82,8 pontos. Das 1.112 empresas, 23,3% prevêem melhora da situação dos negócios e 27,7%, piora. No mês passado estes percentuais haviam sido de 38,1% e 11,0%, respectivamente. Este é o pior resultado desde dezembro de 1998, quando 23,6% das empresas previam melhora e 28,3% projetavam piora do ambiente de negócios.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()