Título: Os mercados tremem
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 16/03/2011, Mundo, p. 16

Perdas aceleradas na Bolsa de Tóquio trazem instabilidade para a economia mundial » O pânico de investidores diante da ameaça de tragédia nuclear no Japão levou a Bolsa de Tóquio a sofrer ontem sua maior queda em pouco mais de dois anos. O Nikkei 225, principal índice do pregão, despencou 10,55%. Ao longo do dia, a baixa chegou a 14,4%, antes de fechar no pior resultado percentual desde o tombo de 11,4%, em 16 de outubro de 2008, no auge da crise financeira global motivado pela quebra do banco Lehman Brothers. Todas as grandes bolsas da Ásia e da Europa fecharam com fortes baixas.

No Brasil, a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa) também sentiu os efeitos externos, sobretudo pela manhã. O Ibovespa, mais importante indicador de desempenho das cotações, chegou a cair 2,54% logo após a abertura. À tarde, o índice iniciou recuperação, encerrando o pregão em queda de 0,24%. Mais tarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, procurou minimizar o impacto das dificuldades do Japão na economia brasileira. ¿Não sabemos qual é o alcance da crise japonesa e estamos acompanhando para ver qual é a sua extensão. Torcemos para que o governo japonês consiga controlar a situação¿, disse.

Mantega considerou ¿normal¿ o nervosismo do mercado. Para ele, o cenário ficará mais claro nos próximos dias. ¿Ainda não há maiores consequências sobre o Brasil além dessa volatilidade do mercado. Temos que aguardar uma avaliação melhor¿, resumiu. Sobre a balança comercial, ele também considerou qualquer prognóstico prematuro. ¿A situação precisa se delinear, se tem um problema nuclear ou não, para depois avaliar as consequências econômicas¿, finalizou. O embaixador do Brasil no Japão, Marcos Galvão, informou ao ministro que estava preocupado, mas que tudo está ¿aparentemente sob controle¿.

A aceleração das vendas de ações obrigou a Bolsa de Tóquio a interromper temporariamente as vendas feitas por corretoras. Em dois dias de fortes baixas, as perdas já somam 16%. No fechamento do pregão, as ações da Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da central nuclear de Fukushima, estavam 42% mais baratas do que na sexta-feira última. As empresas japonesas perderam mais de US$ 600 bilhões em valor de mercado esta semana.

As declarações ontem do primeiro ministro japonês, Naoto Kan, de que ¿quantidades substanciais de radiação estão vazando¿ da usina causaram apreensão. Autoridades passaram o resto do dia tentando acalmar os operadores, sem sucesso. O Banco Central (BC) do Japão ofereceu mais US$ 97,94 bilhões ao mercado. Na segunda-feira, o BC havia feito injeção recorde de US$ 183,84 e duplicado seu programa de compra de ativos. Economistas já estimavam que os custos de recuperação atingiriam pelo menos US$ 180 bilhões ou 3% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas riquezas produzidas) da terceira maior economia mundial. Os receios de provável retração na economia japonesa também já afetam negócios da vida real.

Diante da maior crise do país desde a Segunda Guerra Mundial, o ministro da Economia, Kaoru Yosano, disse que não há motivos para fechar mercados, apostando na estabilização. Apesar disso, ele reconheceu que o governo precisa ¿aliviar a ansiedade do público e dos investidores¿. Yoshihiko Noda, ministro das Finanças, afirmou, por sua vez, que queda da bolsa refletiu ¿fatores temporários¿.

Outras bolsas A Nomura Securities, principal banco de investimentos do Japão e responsável pelos maiores fundos japoneses no Brasil, informou ontem que não deve fazer grande resgate de aplicações no país, mas apenas reduzir, por enquanto, compras de ativos. Dos US$ 196,6 bilhões investidos em bônus estrangeiros no mundo, os fundos de investimentos japoneses têm US$ 21 bilhões no mercado brasileiro, que está em terceiro lugar, atrás apenas dos EUA e da Austrália.

As bolsas da Europa fecharam no menor nível em três meses e meio, com investidores abandonando ações de maior risco. As maiores perdas foram vistas em Frankfurt (3,19%), Paris (2,51%) e Milão (2,01%). Cerca de US$ 247 bilhões foram tirados do mercado europeu de ações, migrando para aplicações mais seguras, como bônus governamentais. Empresas de artigos luxuosos, por exemplo, continuavam em queda com preocupação do efeito do terremoto sobre a demanda nipônica.

Em Nova York, os principais índices recuaram mais de 1% em razão do temor nuclear no Japão. A queda só não foi maior devido ao anúncio do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e que a economia norte-americana se encontrava estável.

Planos adiados A Apple informou ontem que adiará o lançamento no Japão do tablet iPad 2, devido ao terremoto e ao tsunami que atingiram o país. A empresa planejava começar a vender do equipamento no mercado japonês em 25 de março. A companhia não informou um novo cronograma de atividades. Depois de comercializado nos EUA, outros 26 países receberiam a novidade no dia 25. O Japão saiu dessa lista, da qual o Brasil já não fazia parte.