Título: Inpe será referência em monitoramento
Autor: Ottoboni, Júlio
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/12/2008, Nacional, p. A6

São José dos Campos (SP), 1 de Dezembro de 2008 - O Brasil fechará a primeira década do século 21 como o criador e disseminador do principal modelo de monitoramento de florestas tropicais do planeta. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desenvolve essa tecnologia há 20 anos para avaliar a devastação do complexo amazônico e a ferramenta será indicada a todos os países na 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, programada para dezembro de 2009, em Copenhagen, na Dinamarca.

Apesar de ser um encontro político, o meio científico aguarda o evento com grande expectativa. Ele é tratado como um passo além do Protocolo de Kyoto, quando se estabelecerá um novo acordo sobre emissão de gases do efeito estufa e a inclusão das florestas situadas na faixa tropical do planeta no inventário do gás carbônico, agora observando seu seqüestro e fixação no ambiente.

"Copenhagen será um divisor de águas. As florestas entrarão na contabilidade do carbono e a metodologia do Inpe é única para monitoramento das florestas tropicais. A expectativa é que após esse encontro a tecnologia brasileira seja indicada para todos os países que necessitem deste tipo de ferramenta", disse o diretor geral do instituto, Gilberto Câmara.

O acordo prevê pela primeira vez a redução das emissões de gases do efeito estufa pelos Estados Unidos e China. Além disso, promoverá uma agenda de dois anos que levará à adoção, em Copenhagen, em 2009, de um pacto mais amplo para suceder o firmado em Kyoto para depois de 2012. Isso levará o Brasil a receber fundos referentes ao crédito de carbono relativo à preservação da floresta.

Em 2011, porém, o País apresentará ao mundo um salto qualitativo em tecnologia de aferição de áreas desmatadas. Além de contar com novos satélites, como o Amazonas-1 e a continuidade da família sino-brasileiro Cbers, o Inpe firmará parcerias com mercados detentores de sistemas satelitários de sensoriamento remoto, como EUA, União Européia e Índia.

"Não estamos satisfeitos, pois queremos detalhar ainda mais o desmatamento da Amazônia. Vamos unir os programas Deter e Prodes em um só, teremos o Centro de Ciências do Sistema Terrestre para pesquisar os impactos das mudanças climáticas no Brasil e auxiliar na formação de políticas públicas. Além disso, teremos, em 2009, o Centro Regional da Amazônia no Pará para atender a demanda pela nossa tecnologia", revelou Câmara.

O Brasil levará na bagagem, tanto para o encontro da Polônia, que começa nesta semana, como para a Dinamarca a mais eficiente tecnologia para monitorar florestas, mas também números assustadores sobre desmatamento. A Amazônia brasileira perdeu de 2000 a 2008 cerca de 167 mil kmde floresta.

O Inpe detectou entre agosto de 2007 e julho de 2008 a derrubada de 11.968 km. O consolo é que, nos últimos 20 anos de devastação monitorada da mata, os dois últimos períodos estiveram entre os três menores da história. A tendência de queda se confirmou em 2005, 2006 e 2007. Embora os mais otimistas possam comemorar a estabilidade do desmatamento, um complicador chama atenção dos pesquisadores. Em 2006-2007 ocorreram 68 mil focos de incêndio na região da Amazônia Legal. No último intervalo, foram 101 mil focos.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Júlio Ottoboni)