Título: Reforma tributária devolve cacife político a Antonio Palocci
Autor: Falcão,Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/12/2008, Política, p. A10
Brasília, 1 de Dezembro de 2008 - A rotina no gabinete 548 da Câmara não é mais a mesma. Nas últimas semanas, o entra e sai de deputados atrás do proprietário, o deputado Antonio Palocci (PT-SP), ganhou dimensões incalculáveis até bem pouco tempo. O motivo é a reforma tributária. O petista assumiu o controle das negociações e passou a ser o principal interlocutor do Palácio do Planalto sobre o tema no Congresso. Coloca as cartas na mesa, orienta as estratégias e avalia os riscos para a votação da proposta.
Há quem diga que se não fosse Palocci dar de ombros para a resistência dos governadores ao texto, a reforma não teria passado pela comissão especial da Câmara, que a manteve em análise por longos sete meses. Para Palocci, que comandou a comissão, a movimentação em torno da reforma ganhou outro significado: a recuperação de seu cacife político.
O petista, que já acumulava no currículo denúncias de corrupção que envolviam sua gestão como prefeito de Ribeirão Preto, entrou no limbo em março de 2006. Deixou o Ministério da Fazenda após a quebra do sigilo de um caseiro. Era a tentativa de desmoralizar Francenildo dos Santos Costa, que afirmava tê-lo visto várias vezes na mansão alugada em Brasília, por lobistas da chamada república de Ribeirão Preto, relacionados ao "mensalão", esquema do pagamento de propina a parlamentares.
Palocci deixou a condução da política econômica. Saiu de cena. Voltou à Câmara, mas mantém sempre movimentos discretos. Foi pouco à tribuna. Fez apenas oito discursos em plenário. Apresentou cinco projetos. Entre eles um que trata da divulgação da imagem e de informações sobre personalidades da política e da cultura e outro que prevê a desoneração fiscal às atividades de edição, comercialização e importação de livros. Hoje, Palocci integra a Comissão de Finanças e Tributação e também faz parte de um grupo de trabalho de consolidação de leis.
Aposta na área econômica para se reabilitar, mas prefere se manter na sombra até que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) decida se aceita ou não a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, contra o ex-ministro da Fazenda por dar ordem para que o sigilo bancário do caseiro fosse violado. Mendes disse que até fevereiro de 2009 vai decidir se a denúncia será aceita. Neste caso, o despacho do presidente do STF vai dizer se será aberta uma ação penal contra o ex-ministro, que passará a réu, ou se a denúncia será arquivada.
Palocci aguarda o resultado do processo no STF para decidir seu futuro político. Em conversas reservadas, o presidente Lula sinaliza que se Palocci sair ileso da Suprema Corte teria seu aval para disputar o governo de São Paulo em 2010. Neste caso, teria que desbancar outros petistas como o senador Aloizio Mercante (SP) e até o atual presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
O apreço do presidente Lula por Palocci não é novidade. Foi o presidente quem ajudou na retomada política de Palocci. Pediu que a relatoria da proposta que prorrogava a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que acabou derrubada no ano passado pelo Senado, ficasse em suas mãos. Palocci fez a lição de casa e retomou o prestígio entre os colegas. Na comissão especial, mostrou desenvoltura, deu aulas de economia a seus pares e estreitou laços com os oposicionistas. "Ele se mostrou um mestre", elogia o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PT-PE)."O discernimento, a tranqüilidade que ele mantém diante das pressões é surpreendente."
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Márcio Falcão)