Título: Banco público sustenta crédito na crise
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/12/2008, Finanças, p. B1

Brasília, 1 de Dezembro de 2008 - Os bancos públicos estão aumentando sua participação no mercado de crédito e, com isso, ampliando a exposição ao risco, ou seja, à possibilidade de atraso nos pagamentos dos empréstimos. Conforme dados do Banco Central, o estoque de operações de crédito do sistema financeiro público cresceu 5,2% no mês de outubro - mais do que a média do setor, 2,9% -, saltando dos R$ 394 bilhões registrados ao final de setembro para R$ 414 bilhões no mês seguinte.

A expansão dos bancos públicos no mercado de crédito é uma tendência que deve se manter, avalia Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central. "Os bancos oficiais têm respaldo do governo federal. Tendem a ser menos avessos aos riscos", diz. Ele lembra que essa maior exposição dos bancos federais ocorre porque, na prática, ele não estão sujeitos a liquidação extrajudicial. Freitas exemplifica com o fato de que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil terem anunciado, na semana passada, uma redução dos juros, justamente no momento em que as taxas alcançaram os percentuais mais elevados dos últimos anos, em reação à crise e por aversão ao risco. A taxa média do crédito em outubro foi de 42,9% ao ano, o que representou o juro mais elevado desde junho de 2006, quando atingiu 43,2%.Segundo o ex-diretor do BC, outro exemplo da maior flexibilidade dos bancos públicos na concessão de crédito no atual momento de crise são os quase R$ 3 bilhões de empréstimos feitos pela Caixa e pelo BB para a Petrobras. "Os R$ 2 bilhões repassados pela Caixa à Petrobras representam uma só operação de valor extravagante", afirma.

Para Freitas, Caixa, BB, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia tendem a avançar, no conjunto, sobre o grupo formado por Bradesco, Itaú Unibanco e Santander no conjunto do crédito do País. "Mas não vejo processo de estatização. É uma tendência transitória", avalia.

Os dois maiores bancos públicos federais, Caixa e BB, rejeitam a hipótese de que a compra de carteiras de bancos menores e a ampliação da oferta de crédito resultem em aumento do risco sobre as carteiras. "As eventuais aquisições/participações acionárias serão conduzidas em bases técnicas, com análises dos riscos e retornos envolvidos, observada sempre a compatibilidade de preços com o mercado e as garantias que serão dadas. Com isso, serão fornecidas condições de liquidez a setores que, no contexto atual, não despertam o interesse de bancos privados, promovendo o desenvolvimento do País e servindo os interesses da sociedade", informou a Caixa, por meio de uma nota.

O vice-presidente de finanças da Caixa, Márcio Percival, afirmou há cerca de uma semana, durante seminário de caixas de poupança realizado em Brasília, que há uma expectativa de aumento da inadimplência devido à retração da economia. Percival, entretanto, evitou dimensionar qual seria o aumento de atrasos nos pagamentos de empréstimos.

A Caixa atingiu, ao final de setembro deste ano, R$ 69,1 bilhões em operações de crédito, um crescimento de 33% em 12 meses. Desse valor, R$ 22,9 bilhões foram realizados nas operações de crédito comercial, um crescimento de 29% frente a setembro do ano passado. O BB, na divulgação dos resultados relativos ao terceiro trimestre, informou que sua carteira de crédito havia crescido 38,1% em 12 meses, atingindo R$ 214 bilhões. Até novembro, as compras de carteira já haviam atingido o patamar de R$ 8,2 bilhões, envolvendo carteiras de crédito consignado, veículos e comercial. Frente ao risco das carteiras adquiridas, o BB informa que, dos R$ 17,1 bilhões em crédito analisados desde outubro, foram aprovados somente 40%.

O estoque de crédito no País encerrou outubro na marca de R$ 1,186 trilhão. Desse total, os bancos públicos tinham 34,93%, com R$ 414,5 bilhões; os bancos privados nacionais abocanhavam 43,67%, com R$ 518,2 bilhões; e as instituições estrangeiras tinham 21,38%, ou R$ 253,8 trilhões. Ou seja, os bancos privados nacionais continuam na liderança do mercado de crédito, mas perderam um pouco de participação em relação à fatia de mercado que tinham no começo do ano. Em janeiro, os bancos públicos tinham 34,14% do mercado de crédito, frente 43,86% dos bancos privados nacionais e 22% das instituições estrangeiras. A diferença pode parecer bastante modesta, mas nesse bolo, cada 0,01 ponto percentual representa mais de R$ 100 milhões.

Ver também pág. B3(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ayr Aliski)