Título: Palco de popstar
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 16/03/2011, Mundo, p. 18

O discurso de Barack Obama no centro do Rio de Janeiro, no próximo domingo, será destinado a ¿todos os brasileiros¿, mas a mira está apontada especialmente para o público americano. A opção por falar ao ar livre para uma grande multidão, em um local como a Cinelândia e em um país onde o presidente americano ainda é visto como popstar, garantirá a Obama o palco de que ele precisa para mostrar que mantém a boa forma política ¿ apesar da aprovação abaixo dos 50% nos EUA. A ¿zona de conforto¿ se repetirá também nos assuntos a serem tratados com a anfitriã, Dilma Rousseff. A expectativa é de que temas espinhosos, como a posição do novo governo em relação ao Irã e as altas tarifas sobre o etanol brasileiro, fiquem de fora. O foco será nas parcerias comerciais e nas cooperações em terceiros países.

¿Será um discurso para americano ver¿, aposta o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer. ¿Acredito que só o fato de mostrar o entusiasmo que Obama desperta entre os brasileiros já pode fazer aumentar alguns pontinhos na sua popularidade¿, explica. A ideia seria repetir o efeito de outros pronunciamentos, como o do Cairo, quando Obama falou para o mundo árabe logo após ser eleito, e o de Berlim, quando, ainda como candidato à Presidência, ele atraiu 200 mil pessoas diante do Portão de Bradenburgo. ¿Eu vejo o discurso da Cinelândia como a versão latina do discurso de Berlim. É uma tentativa de achar ressonância em falar diretamente ao povo e criar uma imagem de popularidade. Mas, infelizmente, Obama não é mais uma promessa e não tem conseguido levar bem o governo¿, afirma William Allen, professor da Universidade Estadual de Michigan.

Entre os acordos e memorandos de entendimento que devem ser assinados durante a visita de Estado ¿ provavelmente sem a presença de Obama e Dilma, mas entre ministros dos dois países ¿ estão temas que envolvem a ajuda a outros governos, em especial nas áreas de saúde, educação e energia. Esse tipo de parceria tem sido de praxe na relação Brasil-EUA desde 2007, quando a então secretária de Estado, Condoleezza Rice, assinou um acordo para cooperar sobre biocombustíveis em terceiros países. ¿Acredito que eles não vão sair dessa zona de conforto. Até porque os dois países estão em processo de reaproximação e, para isso, é preciso encontrar terrenos comuns¿, observa Fleischer. (IF)