Título: Pressão de estatais reduz oferta de crédito no mercado
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/12/2008, Brasil, p. A6

São Paulo, 2 de Dezembro de 2008 - A falta de liquidez no mercado de crédito doméstico deve se agravar com a concorrência de estatais e grandes grupos empresariais. Sem conseguir financiamento externo, esses conglomerados, entre eles a Petrobras, disputam os recursos dos bancos comerciais provocando um aperto maior para as companhias que necessitam de capital complementar para projetos de infra-estrutura.

O desafio a ser superado na área de infra-estrutura e em outros setores econômicos é encontrar alternativas capazes de substituir o crédito complementar no mercado local, declarou Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib) que participou ontem da abertura do Construbusiness 2008 na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Segundo Godoy, a cada bilhão que uma grande empresa absorve no mercado, tira fontes de financiamento de 200 companhias que utilizam os bancos comerciais como fonte de crédito complementar às linhas de longo prazo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

O ministro Guido Mantega, da Fazenda, presente ao evento, defendeu o acesso da Petrobras ao mercado doméstico e rebateu comentários que classificou como "indevidos" que levantavam suspeitas sobre a condição financeira da companhia. "A Petrobras teve R$ 10,8 bilhões de lucro no último trimestre, quase o dobro de igual período do ano passado", afirmou. Segundo Mantega, a estatal, como outras empresas, está captando recursos localmente em razão da falta de liquidez no mercado internacional. Para o ministro, "estão fazendo uma tempestade em copo d`água. Ela (a Petrobras) está absolutamente sólida e apenas vai disputar recursos localmente com outras empresas".

Godoy pondera que a Petrobras está na mesma situação que outras grandes empresas brasileiras, que estão pressionando o mercado interno de crédito dentro de um cenário de escassez. O presidente da Abdib concorda com o ministro, que considera normal a disputa por recursos dos bancos comerciais.

"Não se trata de um problema de solvência . É claro que ela vai ter essa dificuldade e, como outras empresas, tem de substituir essas operações (no mercado internacional de crédito). Isso reforça a tese de que temos de criar outras alternativas fora do mercado comercial de crédito", assinala Godoy. "A Petrobras demandava pouco recurso de longo prazo no BNDES e agora está se socorrendo dessas linhas de crédito", comentou Godoy.

Construção civil

O ministro da Fazenda buscou evidenciar que existe um alinhamento entre a posição do governo e o setor da construção civil. Segundo ele, o setor é importante por sua capacidade de gerar empregos e sustentar cerca de 8 milhões de vagas no País. Segundo Mantega, "no Brasil a construção civil não tem subprime. O setor é absolutamente sério, sólido e pode crescer muito. Esta é a nossa vantagem. Estamos engatinhando, começando a aumentar o financiamento para a construção. Hoje ela representa apenas 3% dos financiamentos do mercado", afirmou o ministro.

O risco da alta de insumos utilizados na construção civil está afastado pela acomodação que ocorreu nos mercados. "Se havia um perigo, ele está afastado pela acomodação do setor. A indústria não vai crescer 10% como antes, mas se crescer 8% está ótimo", comentou.

Segundo Mantega, o governo criou uma força-tarefa na Receita Federal para acelerar a liberação de créditos de tributários. Na próxima quinta-feira, o ministro se reúne com o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) para discutir novas medidas para estimular o setor. "Criamos uma linha de capital de giro, de financiamento para baixa renda e continuaremos com obras de saneamento em todos os estados que somam mais de R$ 100 bilhões até 2010. O PAC permanece ativo."

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Jaime Soares de Assis)