Título: Taxa de fundos leva investidor a perder R$ 870 milhões ao ano
Autor: Pinheiro,Vinícius
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/12/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 2 de Dezembro de 2008 - A aplicação em fundos de investimento com taxas de administração elevadas leva os clientes dos principais bancos de varejo do País a perder aproxi-madamente R$ 870 milhões ao ano. A estimativa faz parte de estudo realizado pela empresa de assessoria financeira FinancialCare, obtido pela Gazeta Mercantil. O levantamento tomou como base o patrimônio dos fundos DI e renda fixa destinados à rede de agências das maiores instituições financeiras do País, um universo de R$ 167 bilhões.

O prejuízo com as aplicações acontece basicamente de duas formas: quando um investidor de alta renda aplica em um fundo com taxa elevada mesmo tendo à disposição um produto com perfil semelhante mais barato ou, no caso dos clientes com menos recursos para aplicar, quando o rendimento líquido do fundo é inferior ao da caderneta de poupança - isenta tanto da taxa de administração como de Imposto de Renda.

Com uma taxa básica de juros de 13,75%, praticamente nenhum fundo DI ou renda fixa com taxa superior a 4% ao ano é competitivo em relação à poupança no prazo de um ano, segundo o sócio-diretor da FinancialCare, Leonardo Calixto. O prejuízo, nesses fundos, eqüivale a 79% do ganho que os clientes conseguiram com as aplicações. A rentabilidade inferior, porém, não afugenta os clientes. Mais de um milhão de investidores possuem aplicações em fundos com essas características, que reúnem um patrimônio de R$ 13,941 bilhões. Além de render mais, a poupança, ao contrário dos fundos, ainda conta com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que garante as aplicações até R$ 60 mil em caso de quebra da instituição financeira.

Apesar de se tratarem de produtos com aplicação mínima entre R$ 100 e R$ 300, ou seja, destinados a clientes de renda mais baixa, os fundos mais caros possuem saldo médio de R$ 13,5 mil. Isso significa que eles acabam recebendo também recursos de grandes investidores, que teriam condições de aplicar não apenas na poupança como em carteiras com o mesmo perfil de risco e taxas inferiores, na mesma instituição. Pelos cálculos do sócio da FinancialCare, 20% dos investidores em fundos concentram hoje 80% dos recursos.

Gestão do negócio

Mas, afinal, por que os bancos oferecem a seus clientes produtos de investimento inadequados? Calixto, que foi diretor da área de gestão de recursos do HSBC, diz que não se trata de má-fé. "O que existe é a gestão de um negócio, que em alguns momentos pode levar a conflitos de interesse." Ele afirma que isso acontece pelo fato de, na maioria dos casos, os bancos serem hoje responsáveis tanto pela venda como pela assessoria aos investidores.

A ineficiência na indústria de fundos também é fruto do excesso de regulamentações e exigibilidades em relação ao destino dos recursos aplicados nos bancos, na avaliação do sócio da FinancialCare. Ele lembra que a legislação determina, por exemplo, que 65% dos depósitos de poupança sejam destinados ao crédito imobiliário. "Se, por qualquer motivo, o banco não quiser se expor a esse tipo de financiamento, é natural que ele estimule a captação de outros produtos."

A responsabilidade pela alocação incorreta, no entanto, não é apenas dos bancos ou do governo. Calixto explica que o desconhecimento do investidor contribui para aumentar as perdas. Ele destaca que uma parte do patrimônio dos fundos caros é formada por clientes que aplicam no mesmo produto há muito tempo e não se preocupam em avaliar outras opções. "Quando a taxa de juros era mais alta, esses produtos ainda eram competitivos, mas o cenário mudou e o investidor não acompanhou essa dinâmica."

Como o estudo se restringiu aos fundos DI e renda fixa, os mais populares entre os investidores de bancos, Calixto afirma que as perdas com as taxas de administração são ainda maiores se for levada em consideração toda a indústria de fundos. Outros fatores, como as metas de vendas de produtos estabelecidas nas agências bancárias e a falta de uma assessoria adequada também levam o investidor a aplicar em alternativas inadequadas, lembra o especialista.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Vinícius Pinheiro)