Título: Exportações travam e receitas do agronegócio sofrem queda
Autor: Botelho,Gilmara
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/12/2008, Agronegócio, p. B11

São Paulo, 2 de Dezembro de 2008 - As exportações brasileiras não foram capazes de resistir às conseqüências da crise e voltaram a registrar forte queda em novembro, tanto em relação a outubro, quanto ao mesmo mês do ano passado. O setor de carnes lidera o ranking de variações negativas. "O que já se esperava começou a se confirmar. Num quadro recessivo não é possível manter as vendas externas em alta. As entidades até mantiveram um discurso de que a demanda mundial por alimentos não cederia à pressão, mas os embarques de outubro foram encobertos por vendas antigas. Em novembro ainda pode ter comercialização anterior à crise, um sinal de que o tombo pode ser ainda maior", pondera paulo Molinari, da Safras & Mercado.

Apenas 22,4 mil toneladas de carne suína chegaram ao mercado internacional em novembro. "A estimativa que já havíamos reduzido de 50 mil toneladas para 35 mil por causa da crise, agora atinge esse patamar também em virtude do fim dos embarques no Porto de Itajaí (SC), nosso principal escoador de mercadoria", calcula Pedro Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). As exportações foram redirecionadas para o porto de Paranaguá (PR).

As exportações de carne de frango, dependentes em 45% do porto catarinense, também registraram queda. Apenas US$ 359 milhões de dólares foram faturados com os embarques de novembro - queda de 26,6% em relação a outubro e de 11,4% quando comparados a novembro de 2007. Mas no caso deste setor, os motivos para o recuo das exportações vão além do fim dos embarques via Itajaí. De acordo com Christian Lohbauer, diretor-executivo Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), o excesso de produção em outros mercados como Japão e União Européia e a paralisação das licenças de importação também na Europa já comprometiam as vendas externas de frango in natura.

"Três dos quatro atracadores do porto de Itajaí estão condenados, vamos seguir com os embarques por Paranaguá, Santos e Rio Grande, mas nem esse ajuste da logística pode reverter a situação", afirma Lohbauer, que prevê queda na média mensal de embarques de aves de 315 mil toneladas para 250 mil durante o primeiro trimestre do próximo ano. "Vamos ter que passar por um ajuste grande".

O milho ensaiou uma reação em relação a outubro, com o embarque de 775 mil toneladas, mas o preço do grão já está perto do mais baixo nível já cotado - US$ 140 dólares a tonelada. O caos continua e o preço não tem a menor chance de reagir, preconiza Molinari. No ano passado a tonelada da commodity foi vendida a uma média de US$ 250.

Mais de 32 mil toneladas de carne bovina deixaram de ser negociadas no mercado internacional durante este fatídico novembro. E o setor viu o faturamento cair 36,9% em um só mês. No referente período de 2007, 99,1 mil toneladas de carne de boi eram negociadas no mercado externo, ante apenas 56,7 mil toneladas do mês que se encerrou.

Para Olavo Henrique Furtado, Trevisan Escola de Negócios, essas "são só as evidências de uma tendência. Todo setor que depende do mercado externo vai sofrer. Talvez nem em 2010 se consiga encontrar a liquidez do início de 2008. Deveremos repensar as estratégias para uma liquidez menos exorbitantes".

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 11)(Gilmara Botelho)