Título: Estoque das distribuidoras sobe 6,9% em outubro
Autor: Collet, Luciana
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/12/2008, Indústria, p. C7

São Paulo, 2 de Dezembro de 2008 - Queda nas vendas e alta dos estoques. A crise financeira internacional deixou as indústrias em compasso de espera e, por isso, a compra de novos insumos, como chapas de aço e vergalhões, têm sido postergadas. Com isso, sobe o volume dos estoques, que deve ser queimado agora, já que as siderúrgicas estão reduzindo a produção. "Já observamos um aumento do número de pedidos de orçamento, mas com volume de compras menores, o que indica uma readequação da indústria para compras de curto prazo", disse o presidente da distribuidora de aço Frefer, Cristiano da Cunha Freire.

Segundo dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), os estoques subiram 6,9% em outubro, em relação a setembro. Em relação a igual mês de 2007, o volume cresceu 12,5%. O volume, de 882,6 mil toneladas, corresponde a cerca de dois meses e meio de demanda. Freire, que também é presidente da entidade, explicou que a alta dos estoques se deve ao crescimento das encomendas realizadas pelas distribuidoras para atender à esperada - e não verificada - alta da demanda. "As compras são realizadas com 60 dias de antecedência, portanto quando foram fechados esses pedidos, em agosto, a economia ia bem", disse. "Em outubro a distribuição começou a reduzir os pedidos", acrescentou. A expectativa é de que a partir de novembro os estoques baixem, já que as distribuidoras passaram a comprar menos. "Em toda a cadeia, o que se observa é a um movimento de redução de estoques para fazer caixa", disse.

Não por acaso é justamente em dezembro que empresas como Usiminas e Gerdau iniciam paradas de manutenção em equipamentos de suas usinas, atentas à redução da demanda e com o objetivo também de reduzir os próprios estoques. A Usiminas, produtora de aços planos, paralisa no final desta semana as operações do alto forno número 2 da usina de Ipatinga (MG), que permanecerá inoperante até abril. A ArcelorMittal já reduziu em 35% a produção na unidade capixaba, ArcelorMittal Tubarão, também produtora de aços planos. Na área de longos, a companhia já deu início a um plano de férias coletivas dos funcionários, o que deve atingir até 80% da força de trabalho, dependendo da unidade. Outra produtora de longos, a Gerdau Açominas, realizará a manutenção do alto-forno número 1 a partir do próximo dia 15, com previsão de retorno às atividades em 15 de março de 2009. A unidade produz, além de produtos para a construção civil, como perfis e fio-máquina, semi-acabados para exportação, portanto além da queda das vendas internas, a empresa está se protegendo do cenário desfavorável no exterior.

Vendas em queda

Seja o corte da produção das siderúrgicas que o aumento dos estoques das distribuidoras é resultado da queda das vendas. Em outubro, as vendas internas de aço registraram estabilidade, com leve alta, de 0,4%, para 1,9 milhão de toneladas, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Enquanto a comercialização de aços longos, usados principalmente para a construção civil, teve alta de 11%, para 744 mil toneladas, a de aços planos, voltados para indústria automobilística, de linha branca e bens de capital, caiu 5,8%, para 1,02 milhão. Já a venda de semi-acabados ao mercado interno foi 18% menor no mês de outubro e somaram 51 mil toneladas.

Somente na distribuição, que responde por 33% das vendas nacionais de produtos siderúrgicos planos, as vendas tiveram queda de 15% em relação a setembro e 11% na comparação com o volume registrado em outubro do ano passado, para cerca de 285 mil toneladas. Para novembro, dados preliminares do Inda indicam queda de 8% em relação a outubro e 9% em relação a novembro de 2007, para 260 mil toneladas. Em dezembro, a previsão é de 230 mil toneladas, volume equivalente ao de igual mês do ano passado.

Entre os produtos que apresentou maior queda está a chapa grossa, usada na indústria metal-mecânica para a produção de máquinas pesadas, entre outros usos. As vendas deste produto caíram 49% no mês passado, para 29 mil toneladas, ante 47 mil toneladas em setembro. Em novembro, a estimativa é de nova queda, de 20%.

Apesar da queda já registrada e das estimativas pessimistas para os últimos meses deste ano, 2008 ainda assim se encerrará com balanço positivo. Na distribuição, o Inda estima crescimento de 18%, graças ao bom desempenho dos primeiros meses do ano, quando a alta beirou os 30%. O IBS não divulgou a revisão de suas projeções para o ano, mas até outubro registra um crescimento 14,4%.

"Em 2009, vamos viver um primeiro trimestre de queda acentuada, também devido à alta base de comparação, e a partir do segundo trimestre deve haver uma recuperação", afirmou Freire. Para o ano que vem, a previsão da entidade é de um crescimento de até 3%. "Olhando para os outros países, observamos que o Brasil vai muito bem, está crise deve ser uma parada técnica, para digerir o crescimento que tivemos nos últimos anos". E avisa: "Se o mercado de fato retomar, e as usinas prolongarem os programas de redução da produção, a indústria pode ficar desabastecida", disse Freire.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7)(Luciana Collet)