Título: Melhora da renda pressiona os índices
Autor: Silvia Araújo, Ligia Guimarães e Viviane Monteiro
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/09/2004, Nacional, p. A-6
IGP-10 acelera e registra alta de 1,25% em setembro; Fipe apura aumento de 0,56% em SP. A melhora da renda e a proximidade das festas de final de ano irão gerar um ambiente propício para os repasses dos aumentos dos custos para o varejo. A observação consta de relatório assinado pelo departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, chefiado pelo economista Octavio de Barros. Essa percepção, segundo o documento, continua sendo a principal preocupação com a inflação ao consumidor no curto prazo.
O movimento de repasse ainda não começou, conforme revelam os indicadores de preços ao consumidor divulgados ontem. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/USP) registrou inflação de 0,56% na segunda quadrissemana de setembro, contra 0,81% de igual período do mês passado. O Índice de Preços ao Consumidor-10 (IPC-10), que faz parte do Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) da Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 0,49% em setembro, contra a alta de 0,63% do mês passado.
A ausência de repasse é nítida quando se observa o comportamento dos preços no atacado. O IGP-10 "cheio" registrou inflação de 1,25%, contra 0,84% de agosto. Os economistas do Bradesco ressaltam que no caso do IPA Industrial a variação foi ainda maior, com o indicador subindo para 2,10%, sendo que as principais pressões se deram na cadeia siderúrgica, química (plásticos) e álcool. Além de madeira, borracha, papel e papelão. "Os itens de maior pressão são também aqueles de maior poder de espraiamento para os elos seguintes da cadeia produtiva", diz o documento.
IPC da Fipe tem alta de 0,56%
A grande maioria dos grupos pesquisados pela Fipe - no município de São Paulo, entre famílias com renda de até 20 salários mínimos - sofreu desaceleração na segunda prévia de setembro, ante as variações registradas na semana passada. Dos sete, seis grupos apresentaram redução nos preços. A maior variação foi a do grupo habitação, que ficou em 1,27%, ante 1,56% na semana anterior. Transportes recuou de 0,94% para 0,73%. Saúde passou de 0,27% da 1ª semana de setembro para 0,21%. Vestuário registrou alta de 0,17% ante 0,19%, e Educação desacelerou 0,04 ponto percentual (p.p.), ficando em 0,10%. O grupo alimentação foi o que apresentou maior desaceleração, de 0,45 p.p., registrando alta de 0,09% nesta medição. O único grupo a seguir em sentido oposto foi despesas pessoais, que reduziu a deflação de 0,23% para 0,14%.
IGP-10 sobe 1,25% em setembro
O IGP-10 subiu 1,25% em setembro, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgados ontem. Em agosto, o indicador registrou alta de 0,84%. Dois dos três índices que compõem o IGP-10 registraram desaceleração em relação ao mês passado. O Índice de Preços no Atacado-10 (IPA-10) passou de alta de 0,93% para de 1,60%. O Índice Nacional do Custo da Construção-10 (INCC-10) subiu 0,74%, contra a alta de 0,79% apontada no mês passado. O IPC-10 aumentou 0,49%, ante 0,63% em agosto. No ano, o IGP-10 acumula elevação de 10,38%, e, nos últimos 12 meses, de 12,27%.
O IGP-10 mede a evolução de preços entre o dia 11 do mês anterior ao de referência e o dia 10 do mês de referência. O indicador é composto por 60% do IPA-10, 30% do IPC-10 e 10% do INCC-10. A aceleração da taxa do IGP-10 em setembro reflete "muito" o impacto dos preços industriais, com destaque para a alta dos preços das commodities minerais no mercado internacional, que causaram impactos sobre o preço do aço, de acordo com o economista-chefe da Consultoria Lopes Filho, Júlio Hegedus.
Os principais aumentos foram observados nos preços da chapa grossa, com alta de 20,74%, e da chapa de aço comum, com aumento de 17,13%, sobre a medição anterior. Segundo Júlio Hegedus, esses aumentos são conseqüência da forte demanda dos mercados da China e da Índia. Entretanto, na sua análise, ele destaca que a tendência é de desaceleração nos preços das commodities minerais.
"A tendência é de que os preços se diluam um pouco, porque os aumentos já foram dados. Talvez desacelere um pouco também em razão da inflação (daqueles países) que deve influenciar um pouco a alta do juro. Vamos ficar em observação", disse. Para o economista, a tendência é de desaceleração em todos os índices de inflação de setembro, por conta da diluição dos custos dos itens que pressionaram os preços nos meses anteriores: preços administrados - como gasolina e tarifas de energia elétrica e de telefone fixo - e alimentos.
"Não há tantos fatores de impacto, a não ser que o preço da gasolina venha a ser reajustado por conta do preço do petróleo no mercado internacional", disse Hegedus. Mas isso não significa que não há preocupação em relação às taxas de inflação. "A inflação preocupa em razão da defasagem do preço do petróleo externo", disse.