Título: Redução na atividade industrial sinaliza PIB menor no 4º- tri
Autor: Saito,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/12/2008, Brasil, p. A5
São Paulo, 3 de Dezembro de 2008 - A queda de 1,7% da produção industrial em outubro em relação ao mês anterior indica uma retração do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre do ano na comparação com os três meses anteriores. Com o resultado da indústria divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) abaixo do esperado pelo mercado, que projetava, em média, uma redução de 0,1%, analistas começam a rever as previsões para desempenho da economia brasileira e não descartam a possibilidade de o País entrar em "recessão técnica", ou seja, registrar dois trimestres consecutivos de PIB negativo.
A LCA Consultores, por exemplo, esperava um crescimento de 0,3% do PIB do último trimestre do ano na comparação com o terceiro trimestre. Na avaliação do economista-chefe da consultoria, Bráulio Borges, agora o cenário mais provável é de queda de 0,5%. "Se o PIB cair nos três primeiros meses do ano que vem na margem, a economia entra oficialmente em recessão", afirma o analista, que pode promover um novo corte na projeção para a expansão da economia em 2009, revista de 3,3% para 3% na última segunda-feira.
A economista da Rosenberg & Associados Thaís Marzola Zara prevê um crescimento de apenas 2% no próximo ano e também avalia que o resultado da indústria sinaliza para uma queda do PIB no quarto trimestre, com impactos no desempenho da economia no início de 2009. Caso se confirme uma demanda fraca no Natal, a indústria começaria 2009 com estoques elevados. "Com certeza, a economia vai entrar no primeiro trimestre com um carregamento (carry over) muito ruim", afirma a economista, sem descartar uma nova retração do PIB para o período.
A Tendências Consultoria Integrada está com um viés de baixa nas projeções de crescimento para o último trimestre. A consultoria previa uma alta 0,6% do PIB do último trimestre em relação ao terceiro trimestre e de 4,4% na comparação anual. "Mas há um risco de uma desaceleração maior", diz a economista Marcela Prada, que reduziu as projeções de crescimento para 2009 de 3,2% para 2,6%.
A última vez que a economia apresentou retração em um trimestre foi em 2005. Entre julho e setembro daquele ano, o PIB caiu 0,7% em relação aos três meses anteriores.
A queda de 1,7% na produção industrial em outubro deve-se em parte à paralisação para manutenção de uma grande refinaria. Os economistas alertam, no entanto, que a queda na margem foi generalizada entre as categorias de uso, com destaque para bens de consumo duráveis (-4,7%), refletindo os efeitos da crise na oferta de crédito. Além disso, para novembro, a expectativas são de uma nova retração da indústria a partir de dados disponíveis até o momento. Entre eles, Thaís, da Rosenberg, cita a venda de veículos em novembro, com queda na margem, dessazonalizada, de 13,6%, após recuo de 14,4% no mês anterior. "O principal impacto da crise foi a queda da confiança do empresário e do consumidor", completa Borges, da LCA, acrescentando que a indústria está com estoques elevados e, por isso, deve produzir menos.
Para o economista da LCA, uma queda no PIB pode mudar os rumos da atual política monetária. "O Banco Central pode cortar juros. Se a atividade for mais fraca, a inflação pode ser menor", diz. A Rosenberg já aposta em corte de 0,25 ponto percentual na Selic, hoje em 13,75% ao ano, na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom). "Os dados da indústria só reforçam essa posição", diz Thaís. Para Marcela, da Tendências, o mais provável é a manutenção da Selic. "´É cedo para pensar em cortes."
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ana Carolina Saito)