Título: Na China, construção cai 16%
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Fonte: Gazeta Mercantil, 03/11/2008, Internacional, p. A12

Pequim, 3 de Dezembro de 2008 - Os preços das casas em Xangai, Shenzhen e Guangzhou estão desabando e isso pode travar o crescimento econômico mundial no próximo ano. A construção de residências, escritórios e fábricas caiu pelo menos 16,6% em outubro, depois de crescer 32,5% no mesmo mês de 2007, segundo a Macquarie Securities. Isso está pressionando uma economia que já vem desacelerando devido às recessões nos Estados Unidos, Japão e Europa, que reduzem a demanda pelas exportações chinesas.

A construção é o principal motor da expansão da China, contribuindo com um quarto dos investimentos em ativos fixos e empregando 77 milhões de pessoas.

O banco central chinês fez na semana passada o maior corte na taxa básica de juros em 11 anos, e o governo disse que medidas "vigorosas" são necessárias para deter o declínio econômico. Sem novas reduções nos juros e mais gastos pelo governo, é pouco provável que a China contribua com 60% do crescimento mundial, como prevê a Merrill Lynch & Co., no ano que vem, o que desaceleraria ainda mais a economia global.

"A China está agora no coração da desaceleração mundial", disse Jim Walker, economista-chefe da Asianomics, uma consultoria econômica de Hong Kong. "Isso significa que o crescimento global provavelmente será arrastado para baixo, chegando a quase zero no ano que vem."

Jim Walker, eleito o melhor economista regional em uma pesquisa realizada pela revista Asiamoney entre corretores durante 11 anos, até 2004, quando trabalhava para a CLSA Asia Pacific Markets, estima que a China vá ter crescimento entre zero e 4% no ano que vem, com uma possibilidade de 30% de uma contração.

Em 2005, a China superou o Reino Unido, tornando-se a quarta maior economia do mundo, depois de experimentar uma expansão anual média de 9,9% nos 30 anos anteriores. O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 69 vezes desde que Deng Xiaoping deu início às mudanças de livre mercado, em 1978. A China foi responsável por 27% do crescimento econômico mundial no ano passado.

Investimento em queda

O Banco Mundial (Bird) reduziu, na semana passada, a sua previsão de crescimento da China no ano que vem, de 9,2% para 7,5%, o que seria a menor expansão em quase duas décadas. O Bird alertou que a China não poderá mais contar com os consumidores externos.

"O setor imobiliário vem tendo uma desaceleração particularmente pronunciada", disse Louis Kuijs, economista- sênior do Bird em Pequim. "O crescimento no investimento em imóveis está agora próximo do zero."

A produção e as encomendas de produtos de exportação da China tiveram em novembro a maior contração histórica. As exportações e o setor imobiliário contribuíram, juntos, para cerca de metade da expansão do PIB da China, segundo estima Andy Xie, analista independente lotado em Xangai, que já foi o economista-chefe do Morgan Stanley para Ásia.

"Esse crescimento acabou", disse ele. "O governo pode compensá-lo com alguma outra coisa? Vai ser difícil."

A previsão da Merrill, de crescimento econômico mundial de 1,5% no ano que vem, se baseia em uma expansão de 8,6% na China. A projeção foi divulgada em 21 de novembro, 12 dias depois de o governo chinês anunciar um pacote de incentivo econômico de 4 trilhões de iuanes (US$ 586 bilhões), a maioria em projetos de obras públicas.

O setor de construção vai contrair 30% no ano que vem, depois de expandir 9% nos três primeiros trimestres de 2008, estima a Macquarie Securities.

"Se o setor imobiliário contrair 30%, não importa o quanto o governo gastar na infra-estrutura, a economia ainda vai estar muito fraca", disse Paul Cavey, economista da Macquarie lotado em Hong Kong, que prevê uma expansão de 6,6% na China em 2009. "Os imóveis são o epicentro da fraqueza econômica."