Título: Passadas à frente
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2011, Política, p. 2

Aécio Neves larga mais rápido que José Serra na corrida de bastidores para garantir postos de visibilidade no PSDB e o comando da aliança contra o PT Com os holofotes voltados para a guerra interna do DEM, segue na quase penumbra uma outra disputa, dentro do ninho tucano: a corrida pelo comando da oposição entre o ex-governador de Minas Aécio Neves e o ex-governador de São Paulo José Serra. O embate entre os dois, por enquanto com vantagem do senador, começará a tomar corpo a partir da semana que vem, com as eleições dos comandos municipais ¿ e, mais tarde, os estaduais do PSDB. O ponto alto será na convenção do partido, em 29 de maio.

Candidato derrotado à Presidência da República, Serra tenta, desde o fim da campanha, encontrar um lugar ao sol na estrutura partidária que lhe permita ter a mesma visibilidade do senador Aécio Neves. Foram até agora três movimentos. O primeiro em direção à Presidência do partido. Logo que terminou a corrida pelo Planalto, numa reunião na casa de Andrea Matarazzo, Serra chegou a mencionar que o presidente do partido deveria ser Sérgio Guerra. Para ele, era uma forma de conduzir Minas e São Paulo em raias paralelas e evitar que Aécio, vitorioso em Minas, ficasse com o comando dos tucanos.

O secretário-geral da sigla, Rodrigo de Castro (MG), entendendo o movimento paulista e de olho na própria recondução, abraçou a candidatura de Guerra, num abaixo assinado em favor da reeleição. O grupo mais aliado a Serra, ao perceber o grupo de Aécio aninhado ao lado de Guerra e ciente de que Serra continuaria em segundo plano, lançou o nome de Serra como possível candidato. Não deu certo porque a maioria das bancadas estava fechadas com Guerra.

Diante disso, grupos aliados do ex-governador paulista passaram a projetar a condução de Serra ao comando do Instituto Teotônio Vilela, responsável pelos estudos partidários. O ex-candidato não deu resposta e a bancada do Senado ¿ da qual Aécio faz parte ¿ terminou por indicar o ex-senador Tasso Jereissati, do Ceará. A bancada tratou a indicação como forma de homenagear um senador combativo e ex-presidente do partido. Os deputados aceitaram e essa segunda porta se fechou para Serra.

O mais recente movimento do ex-governador paulista foi avalizar uma suposta ida do prefeito paulista e dissidente do DEM, Gilberto Kassab, para o PMDB. Assim, teria como aliado a maior estrela regional peemedebista. A bala perdida terminou voltando como bumerangue sobre Serra. Kassab, ao que tudo indica, optará por fundar um partido novo, o PDB. Pior: a gestação dessa configuração foi montada com ajuda do Palácio do Planalto e do próprio PMDB: o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, chiou. O PT, também. Diante da confusão, Antonio Palocci, ministro da Casa Civil, recebeu sinal verde da presidente Dilma Rousseff para estimular investidas de Eduardo Campos (PSB) no sentido de atrair Kassab. Coordenadas, essas ações fizeram com que Serra perdesse o aliado dentro do DEM e irritasse Geraldo Alckmin, provável adversário de Kassab na próxima disputa pelo governo estadual.

Alckmin e Aécio, conforme antecipou o Correio, tiveram que correr para segurar os deputados do DEM e do PPS de São Paulo e de Minas em seus respectivos partidos. Assim, evitariam que Kassab fizesse uma grande colheita entre aliados. E conseguiram. Kassab não levará um grupo grande, conforme havia prometido ao governo Dilma. Nessa costura, aliás, Aécio saiu fortalecido. O mineiro trabalhou para que ACM Neto (BA) fosse eleito líder da bancada do Democratas na Câmara. Virou votos para o baiano e convenceu o deputado Marcos Montes (MG) a desistir da disputa. A vitória de ACM Neto foi um dos fatores para a escolha consensual de José Agripino como presidente nacional do DEM. Montes, aliado de Aécio, tornou-se secretário-geral da sigla.

Rescaldo Enquanto Aécio se movimenta, o grupo de Serra se prepara para a convenção do dia 29 contando aliados. Por enquanto, Aécio leva a melhor, até porque Serra tem a questão paulista por resolver. A briga entre ele e Alckmin pelo protagonismo da política tucana no estado ficou amortecida durante a campanha presidencial, mas voltou agora, na hora de definir quem dominará o estado.

Cobrança imediata Ontem, passada a convenção do DEM, senadores do partido se encontraram com Aécio Neves. Numa reunião a portas fechadas, disseram a ele que é hora de o PSDB se aproximar ainda mais do Democratas para consolidar a posição diante do principal aliado. A proposta de fusão, entretanto, ainda não foi tratada. Os tucanos, por ora, não querem ferir suscetibilidades.