Título: BNDES deverá desembolsar R$ 100 bilhões em 2009
Autor: Lorenzi,Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/12/2008, Brasil, p. A4

Rio de Janeiro, 4 de Dezembro de 2008 - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estima desembolsar R$ 100 bilhões no próximo ano. O vice-presidente do banco, Armando Mariante, disse que a instituição poderá "eventualmente" aumentar o valor estimado, se houver maior necessidade por parte das empresas.

O montante planejado pelo BNDES para emprestar em 2009 é generoso diante da escassez de crédito que jogou o mundo em recessão, mas representa uma desaceleração no ritmo de crescimento dos desembolsos em relação aos últimos dois anos. A instituição deve encerrar 2008 com liberação da ordem de R$ 90 bilhões. Neste caso, será um aumento de 38% dos desembolsos em comparação com o ano anterior, quando o BNDES emprestou R$ 65 bilhões. Em 2007, o crescimento dos desembolsos foi da ordem de 26%.

"Este ano devemos desembolsar R$ 90 bilhões e até um pouquinho mais e ano que vem estamos com previsão de R$ 100 bilhões. É a previsão inicial, preli-minar", afirmou.

O BNDES está ampliando as captações para fazer frente à demanda por crédito das companhias brasileiras. O banco já providenciou os recursos necessários deste ano. Mais da metade do orçamento é coberto pelo pagamento das empresas que tomam crédito. Cerca de R$ 9 bilhões pro-vêem do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e R$ 27 bilhões devem sair dos cofres do Tesouro. Em 2009, o governo tende a injetar mais recursos, se a demanda por empréstimos de fato crescer como o esperado.

Captação de recursos

Além disso, o BNDES tem captado recursos no exterior junto a organismos multilaterais. O Eximbank do Japão (JBIC) é uma das fontes, bem como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Mundial (Bird). O BNDES também emitiu US$ 1 bilhão em bônus neste ano. E, além das captações de 2008 que, pelo correr do calendário, vão apoiar o orçamento do próximo ano, o banco de fomento planeja tomar em 2009 mais R$ 3 bilhões junto a organismos multilaterais e agências de crédito, segundo apurou recentemente este jornal.

Mariante afirmou que o BNDES tem sido proativo diante do cenário de escassez e citou linhas de crédito recentemente lançadas pelo banco, como a destinada a exportadores e a capital de giro. Segundo ele, a instituição continua emprestando um volume considerável desde o agravamento da crise.

Mariante considerou que a estimativa de alguns analistas de que o Brasil crescerá 2% no ano que vem é pessimista, mas admitiu que repetir o salto deste ano não deverá ser possível."Claro que pagaremos um preço pela crise. É impossível não ser afetado, mas o Brasil entra na crise de forma robusta com um sistema bem regulado", afirmou.

Linha de financiamento

Na segunda-feira, o BNDES anunciou a criação de nova linha de crédito destinada ao financiamento de capital de giro de empresas brasileiras, no valor de R$ 6 bilhões para ser liberado até 30 de junho de 2009. "A nova linha tem por objetivo promover a competitividade das empresas dos setores de indústria, comércio e serviços, exceto construção civil", informou o banco. Com juros de até 20%, a linha de crédito terá valor máximo de R$ 50 milhões por empresa.

Mariante participou da edição extraordinária do Forum Nacional, promovido pelo ex-ministro Reis Velloso, na sede do BNDES. Na ocasião, o economista-chefe adjunto do BID, Alessandro Rebucci, defendeu que os países adotem medidas anticíclicas como maneira de evitar que a crise financeira se transforme numa grande depressão. Também destacou que os investimentos sociais são ferramentas poderosas para aumentar o consumo e aquecer a economia.

Já o economista Affonso Celso Pastore avalia que uma das principais conseqüências da crise econômica será a redução de investimentos e também das importações. O professor da USP Carlos Eduardo Soares avalia que a retração abre espaço para a redução de juros e medidas para estimular o crédito. Mas critica o aumento de gastos públicos como forma de "pisar no acelerador".

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Sabrina Lorenzi)