Título: Saldo cambial de novembro é negativo em US$ 7 bilhões
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/12/2008, Finanças, p. B3
Brasília, 4 de Dezembro de 2008 - Nada menos que US$ 7,15 bilhões deixaram o Brasil em novembro, o pior resultado em quase dez anos. Antes disso, o saldo negativo havia chegado a US$ 8,58 bilhões em 1999, ano da maxidesvalorização, quando o País abandonou o câmbio fixo, ação tomada depois de a economia sofrer os reflexos da crise russa. Esse mau resultado do fluxo cambial do mês passado é resultado da diferença entre a sangria de US$ 10,29 bilhões na conta financeira e do saldo comercial positivo de US$ 3,14 bilhões. Os números foram divulgados ontem pelo Banco Central e foram um dos fatores que mais pressionaram a alta do dólar.
O pior resultado do fluxo cambial em quase uma década não pode ser creditado ao enfraquecimento das exportações, pois não houve piora do resultado comercial. O saldo do mês passado, de US$ 3,1 bilhões, foi o dobro do US$ 1,61 bilhão registrado em outubro, este sim o menor superávit comercial do ano. Janeiro e julho também haviam sido mais fracos, com superávits comerciais de cerca de US$ 2,6 bilhões.
Ao contrário do que ocorreu com a conta comercial, o fluxo negativo da conta financeira foi, sem dúvida, o pior do ano. Nem mesmo logo após a explosão da crise financeira mundial foi registrado resultado tão ruim. Em setembro, o fluxo da conta financeira foi negativo em US$ 4,18 bilhões, chegando ao déficit de US$ 6,24 bilhões em outubro.
O economista André Sacconato, da Tendências Consultoria, no entanto, descarta a possibilidade de que o fluxo cambial mantenha esse movimento negativo. Ele destaca, inclusive, o fôlego da balança comercial, que conseguiu reduzir o estrago feito pela conta financeira. Segundo Sacconnato, análises preliminares indicam que o dinheiro que saiu do País em novembro não veio de bolsas de valores ou de negociações com títulos. Ou seja, há fortes indícios de que trata-se de operação pontual, em socorro financeiro ao exterior. "Foi algo anormal", disse Sacconato, considerando as hipóteses de forte remessa de lucros e dividendos ou até mesmo a venda de alguma empresa. Seja qual for o motivo, é certo que trata-se de um efeito da crise. O economista destacou também que os resultados da conta financeira seguiam um padrão de relativa normalidade até meados do mês.
O resultado de ontem foi contrário até mesmo às projeções feitas pelo próprio BC no final do mês passado. Quando divulgou a nota mensal sobre os resultados do "setor externo" relativos a outubro, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, falou sobre números parciais, com a posição até 20 de novembro. Na ocasião, o chefe do departamento anunciou que havia um fluxo positivo de US$ 2,321 bilhões da balança comercial e um resultado negativo de US$ 4,854 bilhões na conta financeira, gerando um saldo geral negativo de US$ 2,533 bilhões. Isso quer dizer que somente nos últimos dez dias do mês, os números ruins mais do que dobraram. Essa rápida oscilação é mais uma característica que faz Sacconato acreditar que o resultado do fluxo de câmbio em novembro é uma situação pontual, que não deve se repetir nos próximos meses.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Ayr Aliski)