Título: Exportação de minério cai; Vale demite 1,3 mil
Autor: Collet,Luciana
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/12/2008, Indústria, p. C10

São Paulo, 4 de Dezembro de 2008 - A Companhia Vale do Rio Doce (Vale) informou ontem a demissão de 1,3 mil pessoas e colocou em férias coletivas mais 5,5 mil funcionários, devido aos impactos da crise financeira internacional na mineração. O pessoal atingido representa cerca de 9% da força de trabalho da mineradora em todo o mundo, que soma 72 mil postos. No terceiro trimestre deste ano, as despesas com pessoal - que representavam 12% do custo dos produtos vendidos - somaram R$ 1,03 bilhão o que representa 8,3% do lucro líquido da companhia, que atingiu o recorde de R$ 12,43 bilhões.

De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações de minério de ferro caíram 32,9% em novembro, na comparação com outubro, para 17,9 milhões de toneladas. Em relação a igual mês do ano passado, o volume caiu 19,7%. As vendas ao mercado externo apresentaram um saldo positivo de US$ 1,37 bilhão no mês passado, abaixo dos US$ 1,92 bilhão registrados um mês antes e 60% acima do apurado em igual período do ano anterior, alta justificada apenas pelo reajuste médio de 65% aplicado este ano.

A desaceleração das vendas de minério de ferro e commodities metálicas já tinha forçado a Vale a reduzir a produção. No final de outubro a companhia anunciou que diminuiria a produção de minério de ferro em 30 milhões de toneladas métricas anuais. Para isso, paralisou a partir de 1º de novembro de 2008 as atividades de algumas minas, produtoras de minérios de menor qualidade e maior custo de produção, localizadas em Minas Gerais.

É justamente o estado mineiro que concentra a maior parte do pessoal em férias coletivas, ou cerca de 4,4 mil pessoas, 80% do total. Além disso, 260 pessoas, das 1,3 mil demitidas, são de Minas Gerais. As férias coletivas são escalonadas e devem durar de dezembro até o final de fevereiro, informou a empresa. As primeiras turmas estão em casa desde a segunda-feira passada.

Além de minério de ferro, o corte de produção anunciado em outubro também atingiu a produção de pelotas, de minério de manganês, ferro ligas, alumínio e caulim no Brasil.

Ginástica

No mês passado, em visita a Brasília, o presidente da Vale, Roger Agnelli, afirmou que a empresa estava fazendo "ginástica" para evitar demissões. Na ocasião, o executivo disse que a empresa tentaria manter o quadro de funcionários inalterado até o início de 2009.

No exterior, onde também foram feitas demissões e determinadas férias coletivas, a companhia já havia anunciado a desativação da unidade de ferro-liga na França até abril, e a paralisação de uma unidade norueguesa para manutenção até junho. Além da redução da produção de níquel na Indonésia e na China. Além dos cortes e paralisações, a Vale informou que 1,2 mil funcionários estão em treinamento para assumir novas funções.

Quando anunciou os cortes na produção, o presidente da Vale, Roger Agnelli, disse que o corte na produção ajudaria a companhia a proteger o fluxo de caixa dado que era esperada uma redução de 20% na demanda por aço.

As siderúrgicas de todo o mundo estão cortando a produção. A maior cliente individual da Vale, a gigantes ArcelorMittal está reduzindo a produção em até 40% e já anunciou a demissão de 9 mil pessoas. No Brasil, além de reduzir a produção de aços planos em 35%, a empresa programou férias coletivas em unidades da ArcelorMittal Aços Longos, para entre 30% e 80% do efetivo, dependendo da unidade industrial. No total, ficarão em casa 1,92 mil funcionários.

Além da estagnação nas vendas internas, que tiveram alta de apenas 0,4% em outubro ante igual período do ano passado, as exportações de produtos siderúrgicos também caíram significativamente no décimo mês do ano.

Siderurgia

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), as vendas externas de aço caíram 26,4% em outubro, para 514 mil toneladas, ante 707 mil toneladas em igual mês de 2007. As exportações já vinham em queda ao longo deste ano para atender a forte demanda local, mas se acentuaram no mês passado. No ano, as vendas brasileiras ao exterior somaram 7,49 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 7,2%.

Entre os produtos que tiveram maior redução nos embarques, estão os semi-acabados, como placas, blocos e tarugos, cujas exportações caíram 28,6% em outubro, para 310,4 mil toneladas. No ano, as vendas internacionais desses produtos somam 4,71 milhões toneladas, crescimento de 18,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

As exportações de aços laminados também caíram, 22,8% em outubro, com destaque para a menor venda de produtos longos, que tiveram redução de 51,3%.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 10)(Luciana Collet)