Título: Crise traz oportunidades para fundos de mercado secundário
Autor: Rosa,Silvia
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/12/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 5 de Dezembro de 2008 - Com a crise financeira global têm surgido muitas oportunidades para os gestores que atuam no mercado secundário de private equity, que buscam prover liquidez para esse setor, comprando participações dos investidores na carteira desses fundos.

A queda do valor das ações em bolsa e dos problemas com os títulos de crédito privado têm impactado o portfólio dos fundos de pensão, companhias de seguros e endowments (fundos de doações à universidades), fazendo com que a exposição a ativos ilíquidos como os investimentos em private equity - que compram participações em companhias - e imóveis tenha crescido. "Os bancos enfrentam uma crise do crédito há pelo menos seis meses e não têm reforço de caixa disponível para aplicar mais no setor de private equity. Além disso, com a queda do valor do patrimônio, a exposição a esses investimentos aumentou na carteira dos fundos de pensão, que começam a ter interesse em vender suas participações para fundos que atuam no mercado secundário", afirma David de Weese, sócio-geral da Paul Capital, que esteve esta semana no escritório no Brasil.

Atuando no mercado secundário de private equity desde 1991, a Paul Capital fechou este ano seu nono fundo, de US$ 1,6 bilhão, com foco global. Desse montante, cerca de US$ 359 milhões serão destinados para mercados emergentes, como América Latina, Ásia e Leste Europeu.

Na América Latina, a Paul Capital já investiu US$ 45 milhões na Argentina, e mais US$ 16 milhões no Chile, e estuda oportunidades no mercado brasileiro. "No Brasil provavelmente teremos R$ 200 milhões para aquisições e estamos olhando diversos gestores de fundos, com diferentes tamanhos", diz Duncan Littlejohn, diretor de gestão para a América Latina da Paul Capital.

A gestora administra mais de US$ 4,4 bilhões em fundos dedicados ao mercado secundário, tendo posição atualmente em cerca de 500 fundos e participação em 300 gestores, que têm um portfólio de 5 mil empresas. "Imagino que nós vamos voltar para o mercado para levantar nosso décimo fundo provavelmente no segundo semestre do ano que vem", afirma Weese.

A Paul Capital tem ao todo US$ 6,6 bilhões sob gestão, tendo lançado também três fundos que compram royalties e receitas das indústrias farmacêuticas, além de três fundos de fundos que buscam prover capital para fundos de venture capital.

Com operações em Nova York, San Francisco, Londres, Paris e Hong Kong, a gestora abriu seu primeiro escritório no Brasil no ano passado, em São Paulo, e está estudando oportunidades no mercado local. Weese destaca que as condições de precificação das companhias na América Latina estão mais atrativas que em mercados como Índia e China em termos de preços e ativos.

A gestora conta com investimentos de fundos de pensão norte-americanos e europeus, endowments, fundações e family offices (gestores de fortunas). Segundo Weese, o interesse das pessoas de alta renda pelo mercado de private equity tem crescido, representando hoje de 10% a 15% de suas alocações. Duncan ressalta que os investimentos no mercado secundário de private equity permitem uma diversificação maior dos riscos. "Um fundo da Paul Capital investe em vários gestores, que por sua vez têm diversos fundos com atuação global, o que nos permite oferecer grande diversificação, tanto em regiões, como por setores. Além disso, investimos em fundos de diferentes períodos, tendo diversas safras dentro da nossa carteira", reforça Weese.

A gestora trabalha com a compra de participações de investidores nos fundos de private equity, cujas aquisições já estão maduras, com capital do fundo todo investido ou quase todo aplicado. Segundo Weese, o retorno dos investimentos desses fundos nos primeiros três a quatro anos costuma ser muito baixo ou negativo, e só depois começam a dar lucro para os investidores. É nesse momento que a Paul Capital entra comprando. "O benefício é que a peformance tende a se manter muito consistente porque nenhuma companhia ou fundo faz grande diferença, e a perspectiva é que o retorno seja mais previsível do que o das aplicações no mercado primário de private equity."

No caso do Brasil, Duncan afirma que os fundos de pensão estão começando a aumentar suas posições no mercado de private equity, mas que ainda é muito baixa comparada com a alocações dos fundos norte-americanos, que segundo Weese, representa entre 3% e 8% para fundos de pensão públicos, 15% para fundos de pensão privados e entre 20% e 25% para endowments. Weese afirma que esses últimos têm sofrido com a crise, pois além da queda do valor do seu portfólio, as doações aos fundos de universidades praticamente congelaram nesse momento.

A gestora também compra carteiras dos fundos de private equity que já tenham realizado parte de seus ganhos e desejam reciclar seu portfólio. Nesse caso, a Paul Capital procura um novo gestor para administrar a carteira de empresas em novo estágio. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Silvia Rosa)