Título: Swap reverso rende US$ 23 bi às reservas
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Fonte: Gazeta Mercantil, 05/12/2008, Finanças, p. B1

Brasília, 5 de Dezembro de 2008 - O Brasil já gastou US$ 6,7 bilhões das reservas internacionais em leilões no mercado à vista de câmbio, na tentativa de conter a alta do dólar desde a acentuação da crise financeira internacional. O número foi divulgado ontem pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e refere-se às intervenções realizadas até o final de novembro.

Apesar das vendas diretas de dólares, as reservas continuam altas, em torno de US$ 206 bilhões. Segundo Meirelles, isso ocorreu por conta de "aplicações que o BC fez", com destaque para as operações de swap cambial reverso contratadas antes mesmo da crise. Essas operações conseguiram engordar as reservas em US$ 23 bilhões. Apesar de destacar as atuações do BC, o dólar ontem continuava a subir, batendo na marca de R$ 2,50.

Meirelles revelou outros números atualizados sobre a atuação do BC no combate aos efeitos da crise, com dados referentes às ações realizadas até o final de novembro. Segundo ele, US$ 11,7 bilhões foram usados em medidas para prover liquidez em dólares, direcionando recursos para o financiamento às exportações. Esse grupo inclui US$ 6,4 bilhões dos leilões de dólares com obrigação de recompra (ou seja, uma injeção temporária de moeda estrangeira), US$ 1,5 bilhão de operações de empréstimo de dólares com garantias em global bonds e mais US$ 3,8 bilhões em empréstimos em moeda estrangeira com garantias em Adiantamento de Contratos de Compra (ACCs) e Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACEs). Além disso, o Banco Central já realizou vendas brutas de swap cambial no total de US$ 31,1 bilhões.

O presidente do BC destacou que, de todas essas ações, somente a venda direta de dólares têm efeito direto sobre as reservas internacionais. As outras operações representam dólares que saem das reservas, mas com compromisso de retornarem.

Para suprir a falta de crédito no mercado interno, Meirelles destacou a importância de o País ter disponível o colchão de depósitos compulsórios (parcela dos depósitos à vista, a prazo e de poupança que são obrigatoriamente recolhidos ao BC pelos bancos). Desde o início da crise, a redução dos compulsórios chegou a R$ 94 bilhões. "Felizmente existia (esse valor) depositado no Banco Central do Brasil, por medidas adotadas nos últimos anos. Em restrição de liquidez, o BC pôde liberar esses compulsórios", disse Meirelles. Em 28 de novembro, o total de compulsórios somava R$ 187,3 bilhões, o mais baixo nível de todo o ano, segundo o sistema de informações do BC. No começo de novembro, por exemplo, o total dos compulsórios chegava a R$ 217,2 bilhões. Em palestra no Tribunal Regional Eleitoral, em Brasília, Meirelles destacou também o direcionamento de R$ 31,2 para prover com liquidez bancos pequenos e médios, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Otimista, Meirelles destacou o crescimento das concessões de crédito no início de novembro. Nos 16 primeiros dias úteis do mês houve elevação de 4,7% no total de concessões na comparação com igual período de outubro. O segmento de Pessoas Físicas foi o que mais cresceu atingindo 10,9%, contra alta de 1,7% no segmento de Pessoas Jurídicas. "O Brasil não é imune à crise, porque faz parte do globo, mas está mais preparado", disse Meirelles. "No passado, quando os Estados Unidos pegavam uma gripe, nós, no Brasil, pegávamos uma pneumonia. Agora são eles que têm uma gripe fortíssima, senão uma pneumonia, e nós não."

Meirelles considerou "muito conservadora" a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que o PIB brasileiro cresça apenas 3% em 2009. Ele destacou que o Brasil teve um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 5,4% em 2007 e citou a previsão de alta de 5,2% para este ano. "Estamos, sim, pagando o preço da crise internacional, mas o desempenho do Brasil é melhor que a média internacional. Não vai haver contração do produto", afirmou Meireles.

Ver também páginas B2 e B3(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ayr Aliski)