Título: Bancos Centrais europeus cortam os juros
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Fonte: Gazeta Mercantil, 05/12/2008, Finanças, p. B3

Bruxelas, 5 de Dezembro de 2008 - Na tentativa de sustentar suas economias diante de uma crise econômica cada vez mais grave, três bancos centrais da Europa cortaram abruptamente ontem suas taxas referenciais, segundo informou o site do jornal The New York Times. O Banco Central Europeu (BCE) cortou a taxa de juros referencial em três quartos de um ponto percentual, enquanto o Banco da Inglaterra cortou em um ponto percentual e o Riksbank, da Suécia, optou por uma redução extraordinária de 1,75 ponto percentual.

"Eles estão agora tomando decisões mais ousadas e isso revela mudança na percepção do BCE", disse Gilles Möec, economista do Bank of America, em Londres, se referindo ao Banco Central Europeu. "O reconhecimento de que não estamos em tempos comuns, e de que essa não é uma recessão comum provavelmente segue na direção correta para estimular a economia real e os mercados de crédito", disse Möec.

Os cortes têm por intuito diminuir os custos dos empréstimos e atenuar o impacto da recessão e chegaram num dia em que as empresas financeiras anunciam cortes de empregos pela Europa, mais especificamente em Londres. O Credit Suisse anunciou planos para efetuar 5.300 demissões, ou 11% da folha de pagamentos, e a gigante japonesa Nomura informou planos para demitir 1 mil funcionários da sua filial em Londres. Em acréscimo, o Commerzbank, da Alemanha, eliminou 1.200 empregos em Londres.

Em Paris, o governo francês informou que gastará perto de US$ 33 bilhões para atenuar o impacto da desaceleração econômica e limitar os efeitos do crescente desemprego.

As iniciativas tomadas ontem pelos bancos centrais foram consideradas agressivas pelos analistas, e refletem a gravidade da desaceleração econômica. O BCE, reunido em Bruxelas, cortou sua taxa referencial de 3,25% para 2,50%. O Banco da Inglaterra reduziu sua taxa de 3% para 2%. A ação do banco britânico seguiu a inesperada grande redução de um mês atrás.

Em Estocolmo, o Riksbank informou que adiantou a decisão de cortar a taxa em dois meses para atenuar a situação deteriorada de desemprego e alcançar sua meta de inflação de 2%. O banco central havia cortado a taxa de juros em meio ponto percentual, para 3,75%, em 23 de outubro.

Na Grã-Bretanha, as más notícias econômicas se acumularam poucas horas antes do anúncio do banco central, informa o site do jornal. O maior banco de crédito hipotecário do país relatou que os preços das residências caíram na taxa mensal mais rápida em 16 anos durante novembro e a atualização do setor automotivo mostrou que as vendas de carros novos registrou queda de 37% ante igual período do ano passado.

"Eles estão sinalizando que cortarão as taxas próximo a zero", disse Jacques Cailloux, economista-chefe para a Europa do Royal Bank of Scotland, em Londres. "Eles vão fazer todo o possível para impedir qualquer tipo de espiral viciosa na economia. O BCE tem sido bem menos franco, mas isso pode mudar."

O BCE, sediado em Frankfurt, tem enfatizado que, por piores que sejam as notícias, as economias dos 15 países da Zona do Euro não estão em queda livre. Os altos executivos do banco subestimaram a perspectiva de deflação, ou de queda dos preços, uma situação que exigiria intervenção mais rigorosa.

Desde a última reunião do banco europeu, os dados confirmaram que a área do euro entrou em recessão, comumente definida como seis meses de contração, no segundo trimestre - a primeira nos dez anos de história do euro. Informações adicionais, especialmente do amplamente acompanhado índice de pesquisa de gerentes de compras, salientaram a rápida deterioração nos setores produtivos e de varejo europeus, reforçando os temores de que a contração vai se intensificar no final do ano.

Um relatório lançado na quarta-feira mostrou que as vendas do varejo na Zona do Euro caíram 2,1% em outubro, ante igual período do ano passado.

"O problema para o BCE é que agora está sendo julgado pelos referenciais recentemente estabelecidos pelo Banco da Inglaterra, pelo Banco Nacional da Suíça e pelo Riksbank", disse Möec. "Eles ainda parecem muito conservadores, mas o sinal de que essa não é uma situação corriqueira e não é uma recessão como as outras é positivo, já que significa que podemos ver mais iniciativas ousadas nos próximos meses", disse Möec.

Igualmente ontem, o banco central da Nova Zelândia reduziu sua taxa referencial em 1,5 ponto percentual, o quarto corte desde julho. Em comentários que repercutiram as declarações de outros bancos centrais, Alan Bollard, presidente do Banco Central da Nova Zelândia, citou "a turbulência em andamento do mercado financeiro e a deterioração marcante na perspectiva para o crescimento global" como motivos para a iniciativa.

O Banco do Japão cortou sua taxa overnight para 0,3% em 31 de outubro, do já mínimo 0,5%. A China também reduziu as taxas agressivamente numa tentativa de salvaguardar a taxa de crescimento de 8% que é considerada essencial para preservar o emprego e a estabilidade social. A Austrália, a Tailândia e o Vietnã também reduziram as taxas esta semana, e até a Indonésia, que se esperava agir, implementou um corte surpresa ontem na sua principal taxa, em um quarto de ponto percentual, para 9,25%.

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortou sua meta para custos de empréstimos da noite para o dia entre os bancos, a taxa de fundo federal, para 1%, de 4,25% pela qual iniciou 2008. No entanto, já que o Fed tem agressivamente injetado dinheiro nos mercados monetários, a taxa efetiva é na verdade mais baixa, cerca de 0,25% na manhã de ontem na Europa.

O Fed começou a fazer compras volumosas de títulos, uma estratégia criada para forçar os bancos a emprestar mais dinheiro para investimento e gastos, em vez de acumular o caixa. Conhecido como "relaxamento quantitativo", o método reflete a crescente convicção de que o banco central tem de reduzir as taxas de juros de uma ampla gama de empréstimos.

O banco central da Suíça, depois de cortar as taxas em um ponto percentual em 20 de novembro, adotou efetivamente essa linha também. "Nas difíceis circunstâncias que a economia suíça está enfrentando, nossa política monetária tem de ser decididamente expansiva", disse Jean-Pierre Roth, presidente do Banco Central, na quarta-feira.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(The New York Times)