Título: Exportação de manufaturados pode se recuperar, apesar da crise
Autor: Monteiro,Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/12/2008, Brasil, p. A6
Brasília, 8 de Dezembro de 2008 - A crise financeira internacional poderá beneficiar as exportação de produtos manufaturados, itens que tinham perdido competitividade no mercado internacional devido à valorização do real. Agora, com a queda do câmbio em cerca de 50% desde agosto, os manufaturados devem recuperar espaço, apesar da retração econômica mundial.
Com a virada do dólar, o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, acredita que os produtos com maior valor agregado tendem a recuperar espaço nas exportações brasileiras. Só que isso vai depender da retomada da demanda internacional, o que, por enquanto, não é possível dimensionar. Ele destaca que a recuperação dos manufaturados brasileiros depende principalmente da demanda dos Estados Unidos, os maiores compradores desses produtos e os maiores compradores individuais do Brasil.
Os produtos manufaturados, que chegaram a responder por mais da metade das exportações brasileiras, perderam 11,6% na participação dos embarques este ano. Isso porque os produtos brasileiros ficaram muito caros, quando cotados em dólar. Antes da crise, no cenário de real sobrevalorizado, o grupo de calçados e couro apresentou queda nas vendas externas. Por outro lado, o cenário internacional foi favorável aos produtos básicos brasileiros, que ganharam espaço na balança comercial em virtude "da bolha dos preços" das commodities no primeiro semestre de 2008.
De janeiro a outubro, a participação das vendas do Brasil para os Estados Unidos recuou para 14,1%, depois de atingir 15,8% no mesmo período de 2007. Para a União Européia, bloco que também enfrenta fortes problemas econômicos, a fatia dos embarques recuou de 24,9% para 23,5%.
A participação dos manufaturados encolheu de 52,3% de participação na balança comercial no período janeiro-outubro de 2007, para 46,2% em igual etapa deste ano, segundo os últimos dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Esse recuo de 6,1 pontos percentuais representa, na prática, uma queda de 11,6% na participação dos manufaturados na pauta de exportações. Em valores nominais, as exportações dos manufaturados até cresceram, saltando de US$ 69,19 bilhões para US$ 78,2 bilhões, mas muito menos que o conjunto dos produtos básicos. Os produtos primários ampliaram sua participação na balança comercial de 32,1%, nos dez primeiros meses de 2007, para 37,3%. Em valores, os embarques dos básicos renderam ao Brasil US$ 63,1 bilhões até outubro, ante US$ 42,4 bilhões em igual etapa do ano passado.
A valorização do real e os altos preços internacionais das commodities prejudicaram os manufaturados brasileiros. "A conjugação desses dois fatores reduziu a participação dos manufaturados nas exportações brasileiras este ano", disse Castelo Branco. O setor de calçados e couro, sensível à variação do câmbio, é um dos grupos de produtos que sentiu fortemente o efeito da perda de competitividade no exterior. As vendas desses produtos até outubro caíram 3,63%, dos US$ 3,671 bilhões de 2007 para US$ 3,538 bilhões deste ano. Com isso, a participação nas exportações totais recuou de 2,77% para 2,09%.
A tendência para os próximos meses, segundo Castelo Branco, é de os produtos básicos percam dinamismo nas exportações brasileiras por conta da redução dos preços das commodities e do arrefecimento da demanda mundial em decorrência da crise financeira global. Por outro lado, avalia, embora o cenário externo também seja difícil para os manufaturados, há possibilidade de eles ganharem espaço na balança comercial, uma vez que tendem a recuperar a competitividade no mercado internacional em razão da disparada do dólar frente ao real. Mas isso, acrescenta, vai depender da retomada da demanda internacional, principalmente dos Estados Unidos, que podem enfrentar os piores problemas de retração da atividade econômica.
Mesmo que o Brasil busque diversificar a pauta de exportação para outros blocos menos desenvolvidos, a balança comercial nacional sentirá o peso da redução do mercado norte-americano, pois ele é o maior consumidor de produtos com maior valor agregado do Brasil, alertou Castelo Branco. Até outubro o Brasil aumentou as vendas para os países asiáticos, para onde a parcela de embarques evoluiu de 16% para 19,1%, puxados pela China, cuja fatia subiu de 7% para 8,9%. O Brasil cresceu as vendas também para o bloco do Mercosul que foi responsável por 11,2% das vendas do País, um pouco acima dos 10,8% observados em igual período do ano passado.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Viviane Monteiro)