Título: BNDES vai socorrer empresas catarinens
Autor: Lorenzi,Sabrina ; Wilke,Juliana
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/12/2008, Brasil, p. A6

8 de Dezembro de 2008 - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai apoiar a reconstrução de Santa Catarina. O presidente da instituição, Luciano Coutinho, estuda dar mais prazo às empresas da região que foram afetadas pela enchente no pagamento de dívidas com o banco. São clientes que podem se tornar inadimplentes por causa da tragédia. Outra medida em estudo é a criação de uma linha específica de financiamento para reerguer infra-estrutura e empresas em dificuldade.

Projeto para financiar é o que não falta. Torres de transmissão de energia elétrica derrubadas, dragagem do Porto de Itajaí, falta de gás às indústrias locais, destruição de ruas, de redes de saneamento e casas, a enchente que matou mais de cem pessoas e deixou 5,5 mil desabrigados pode aumentar a carteira de empréstimos do banco de fomento.

Na última quinta-feira, Coutinho esteve em Santa Catarina e conversou com representantes do governo estadual e do Banco Regional de Desenvolvimento da Região Sul (BRDE), agente repassador de crédito do banco de fomento. Pediram a flexibilização da dívida para empresas afetadas pela enchente. Uma idéia é a suspensão temporária de pagamentos das parcelas por causa das dificuldades de caixa dessas companhias, na maioria de pequeno e médio porte.

Segundo o BNDES, o BRDE também solicita uma linha específica para capital de giro e investimento, para dar um caráter de emergência à liberação dos recursos. A linha teria 24 meses de carência de pagamento, com custo de TJLP mais 2% ao ano, crédito mais barato que os demais. Coutinho se prontificou a ajudar e estudar como. No dia seguinte, na sexta-feira, recebeu técnicos do BRDE novamente, desta vez na sede do banco, para detalhar o assunto. O BNDES também cogita a possibilidade de financiar a região por meio de linhas já existentes.

O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, e o secretário da Fazenda, Sérgio Alves, reforçaram o pleito para as empresas afetadas pelo desabastecimento de gás, como o setor cerâmico. Os prejuízos diários com a suspensão no fornecimento de gás natural em Santa Catarina chegam a R$ 7 milhões, conforme o presidente da Companhia de Gás de Santa Catarina (SCGás), Ivan Ranzolin.

A outra solicitação do governo é para as empresas que realizaram investimentos recentemente atingidas pelas enchentes localizadas em municípios que decretaram calamidade pública. Envolve a suspensão, por no mínimo seis meses, da exigibilidade de pagamentos das operações contratadas; a concessão de nova carência de até 18 meses e ampliação do prazo total para até 48 meses.

O governador Luiz Henrique da Silveira destacou o estado crítico em que se encontram as empresas e a agricultura na região, ressaltando que essa é uma situação caótica de uma crise - a financeira - que se sobrepõe à outra, causando impacto profundo na economia do Estado.

O governo decidiu tomar algumas medidas para aliviar as empresas que foram afetadas pela tragédia. Prorrogou o prazo de pagamento de impostos como o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

O restabelecimento do gás natural às 121 indústrias está previsto para o dia 15 de dezembro. Para essas empresas, o governo solicita suspensão de exigibilidade de pagamento dos financiamentos já contraídos por 60 dias. Nesse período, será feito um levantamento completo da situação, com possibilidade uma nova carência de seis meses.

Os municípios atingidos pela enchente concentram metade do Produto Interno Bruto (PIB) do estado, de acordo com levantamento do governo estadual. "Mas isso não significa que 50% do PIB tenha sido afetado. Estamos estimando perdas de 15% em nossa receita", pondera o diretor de Planejamento de Santa Catarina, Túlio Tavares dos Santos.

O pólo de cerâmica, que concentra uma série de pequenas empresas, ficou parado por falta de gás natural. O gasoduto que importa o insumo da Bolívia parou de trans-portar gás por causa das fortes chuvas. A falta de energia elétrica também paralisou parte da indústria têxtil e de confecções. Foram afetadas empresas do segmento de metalurgia e mecânica, além dos fornecedores de pescado.

A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) estima que R$ 240 milhões deixam de ser arrecadados a cada semana de paralisação do Porto de Itajaí.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Sabrina Lorenzi e Juliana Wilke)