Título: BC mostra economia aquecida
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2011, Economia, p. 12

PIB medido pelo Banco Central confirma aceleração do consumo e da produção. Avanço foi de 1,1% no trimestre e de 7,38% no ano

O crescimento do país surpreendeu analistas e o governo neste início de ano. Diferentemente do que o Banco Central esperava, seu próprio indicador de atividade econômica registrou avanço para o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país). Na comparação entre dezembro do ano passado e janeiro de 2011, houve avanço de 0,71% e, no acumulado de 12 meses, de 7,38%. O ritmo está tão acentuado que, segundo cálculo de especialistas, se o Brasil deixasse de crescer a partir de agora, ainda assim garantiria um salto de 2,5% no ano por inércia.

Foram os números trimestrais, no entanto, os que mais chamaram a atenção do mercado. Pelas contas do BC, entre novembro e janeiro, o PIB registrou crescimento de 1,10%. Nos três meses imediatamente anteriores, o incremento havia sido menor, de 1,06%. As estatísticas inchadas se justificam pelo forte mercado de trabalho, que, no primeiro bimestre do ano, abriu 448,7 mil postos formais, e por alguns ramos da indústria. O setor automotivo, a despeito das restrições de crédito impostas pelo Banco Central, tem batido recordes seguidos de vendas. ¿O país não desacelerou como o BC previa. É preciso dar uma freada, pois o país não tem infraestrutura para suportar um crescimento forte como o do ano passado (7,5%)¿, avaliou Mário Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora.

Nos cálculos de Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, se o Brasil mantiver esse ritmo no decorrer do ano, vai se expandir 8,8%, um número que é perigoso frente à capacidade do setor produtivo do país de atender o consumo. Mas tanto ele quanto Battistel ponderaram que os efeitos das medidas de política monetária ¿ a alta da taxa básica de juros (Selic), de 10,75% para 11,75% ao ano, e as ações prudenciais ¿, ainda terão impacto na economia. ¿Portanto, não há necessidade de o BC forçar demais a mão na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O exagero fará mal à atividade¿, afirmou o analista da Fair Corretora.

Outro fator que os economistas estão colocando na conta e que deve promover alguma desaceleração na atividade são os estragos provocados pelo terremoto e pelo tsunami no Japão, que arrasaram importantes áreas produtivas. ¿A dinâmica da crise japonesa, com impactos potenciais deflacionistas sobre o PIB mundial e os preços das commodities, deverá contribuir para o cenário do Banco Central com viés de desaceleração da atividade¿, argumentou Velho.

A expectativa dos analistas, porém, é de que, neste primeiro trimestre do ano, os números ainda venham positivos, acima do adequado para a capacidade do país de crescer sem pressionar demais a inflação. Eles alertam também que, para o enfrentamento da recente disparada dos preços, o governo não pode abrir mão do ajuste fiscal de R$ 50 bilhões, como tem pregado o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para o instituto, o arrocho é uma ¿barbeiragem¿.

¿PIBÃO BÃO MESMO É O NOSSO¿ » Com fôlego chinês, a economia de Minas Gerais cresceu 10,9% no ano passado ¿ meio ponto percentual acima do desempenho da locomotiva asiática ¿, turbinada pela expansão da indústria extrativa mineral. Foi o maior avanço do estado em 15 anos de apuração do indicador pela Fundação João Pinheiro (FLP), de Belo Horizonte. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas) mineiro ficou bem acima da taxa de 7,5% do Brasil, classificada de ¿Pibão¿ pela presidente Dilma Rousseff. Os números não surpreenderam o governo estadual, segundo a secretária de Desenvolvimento Econômico, Dorothea Werneck. ¿Pibão bão mesmo é o nosso¿, brincou.