Título: Base governista vira fogo amigo na Câmara e Senado
Autor: Correia,Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/12/2008, Brasil, p. A11
Brasília, 8 de Dezembro de 2008 - Habitualmente fiel à orientação do Palácio do Planalto, a bancada governista na Câmara e no Senado têm dado claras demonstrações de rebeldia no Parlamento em discussões de matérias especialmente caras ao governo. Se de um lado a crise econômica teve o condão de promover um relativo consenso entre aliados e oposicionistas em torno da série de medidas provisórias editadas para amenizar o impacto do sobe e desce das bolsas na economia brasileira, do outro propostas que desagradam o Planalto ganharam força no meio de uma base ainda de ressaca do pleito municipal, dividida nos arranjos da disputa pelas presidências das duas Casas do Congresso e irritada com os afagos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governador tucano de São Paulo, José Serra.
Agraciado com a operação da venda do Nossa Caixa ao Banco do Brasil por R$ 5,4 bilhões ¿ providencial injeção de recurso no governo paulista, dois anos antes da sucessão presidencial ¿ Serra foi brindado com uma vitória importante sobre o governo com o adiamento da votação da reforma tributária. Principal opositor da proposta, Serra contou com a ajuda da própria base de sustentação do Planalto no Congresso. O ultimato dado por Lula à sua bancada para votar a reforma ainda neste ano, com ou sem acordo, caiu no vazio. E a base empurrou a apreciação do texto-base da reforma para março de 2009. .
A mesma bancada ajudou a aprovar o texto-base da indigesta ¿ para o governo ¿ proposta de emenda constitucional (PEC) que altera o rito de tramitação das medidas provisórias, encarada pelos presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) como bandeira de seus mandatos. Apesar da pressão contrária do Planalto, o texto retira das MPs o poder de trancar a pauta da Casa onde estiver tramitando, 45 dias depois de sua edição. Na votação dos destaques, a oposição deve tentar acabar com a necessidade de maioria absoluta para inverter a pauta quando a MP estiver no topo do regime de urgência.
A irritação de setores da base, sobretudo do PT, com o relacionamento entre o presidente Lula e o governador José Serra ajuda a compor o pano de fundo da rebeldia da base em relação ao Palácio do Planalto. O partido está incomodado com a injeção de recursos no governo paulista, que dará a Serra condições de, em meio à crise, implementar projetos que vão gerar dividendos eleitorais na corrida pelo Palácio do Planalto, em 2010.
O anúncio do projeto de expansão do metrô na capital paulista pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) acirrou os ânimos da bancada petista na Câmara. Defendida pela candidata derrotada à prefeitura de São Paulo Marta Suplicy (PT), a proposta foi ironizada por Serra e Kassab, que chamaram a expansão de "puxadinho" do metrô. A obra será financiada em parte pela venda do Nossa Caixa.
"O Serra avacalhou a proposta da Marta durante a campanha e agora vem copiar a idéia dela, financiando a obra com dinheiro do governo federal", diz o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), um moderado em meio às críticas do partido sobre a aproximação entre Lula e Serra.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Karla Correia)