Título: Sarney defende ação de Lula e o PT
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/09/2004, Poítica, p. A-8

O presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney (PMDB-AP), saiu ontem em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Em rápida entrevista ao chegar ao Senado, Sarney desqualificou as denúncias da revista Veja de que o PT, com o apoio do Palácio do Planalto, teria se comprometido a pagar R$ 10 milhões ao PTB, em troca do apoio eleitoral dos trabalhistas em cinco capitais do País. O parlamentar classificou a reportagem de meramente especulativa. "Não entra na minha cabeça que possa ter havido um acordo dessa natureza", afirmou o senador.

Presidente nacional do PTB, o deputado Roberto Jefferson (RJ), também negou qualquer acordo com PT em troca de dinheiro e cargos. Mas confirmou que teve um encontro com o presidente do PT, José Genoino, a pedido de correligionários do PTB de Pernambuco, em que solicitou a Genoino R$ 1,5 milhão para financiar campanhas de petebistas.

"Realmente pedi a Genoino e recebi como resposta que nem para o PT eles tinham verbas. Certamente foi isso que desencadeou a ira de alguns correligionários, sobretudo em Pernambuco e no Ceará onde há uma crise pela escassez de recursos", disse Jefferson.

Questionado sobre uma possível onda de denuncismo, fruto da proximidade das eleições municipais, Sarney disse que o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu seria vítima de notícias "rigorosas e impróprias" e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem liberdade absoluta para comparecer a inaugurações em São Paulo. No sábado, Lula pediu a cerca de 5 mil pessoas, que participaram da inauguração de um novo trecho da Radial Leste, para votarem na candidata petista Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo.

"Agora, em São Paulo, quando o governador faz o mesmo é que as coisas complicam", afirmou numa referência ao governador tucano, Geraldo Alckmin (PSDB), que estaria ciceroneando o candidato a prefeito tucano José Serra em eventos oficiais.

Por causa do comparecimento do presidente Lula ao evento petista em São Paulo, a coordenação da campanha de José Serra prometeu encaminhar o caso ao Ministério Público. No início da tarde o partido prometera entrar com uma representação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pedindo a cassação da candidatura de Marta Suplicy, mas recuou alegando não querer passar a imagem pública de que pretendia utilizar outros artifícios para ganhar as eleições que não sejam as urnas.

As denúncias sobre um possível acordo eleitoral entre PT e PTB, envolvendo o pagamento de R$ 150 mil a parlamentares petebistas, no entanto, poderão chegar à Justiça Eleitoral. Em nota oficial, o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC) disse que, interpretando a lei e as aspirações éticas do povo, cabe ao PFL ingressar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com uma denúncia, solicitando urgente investigação nas contas do PT e do PTB.

"É mais um episódio envolvendo problemas de cunho ético que chega à ante-sala do presidente Lula. É uma denúncia séria, de compra de votos e que coloca em dúvida a credibilidade do governo", disse ontem o líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia (BA), defendendo a apuração dos fatos pelo Ministério Público, Justiça Eleitoral e por uma CPI no Congresso Nacional.

O PFL ainda vai acionar o Conselho de Ética da Câmara para investigar os deputados do PTB.