Título: Ativos dos 50 maiores bancos crescem 27,4%
Autor: Nascimento,Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/12/2008, Finanças, p. B3

São Paulo, 8 de Dezembro de 2008 - Dados preliminares do Banco Central (BC) sobre o comportamento do sistema financeiro até setembro mostram crescimento robusto do setor. Movimento, entretanto, que não se repetirá com o mesmo vigor neste quarto trimestre, cujo desempenho dos negócios em outubro e novembro - meses mais impactados pela crise de liquidez com conseqüência na redução da oferta de crédito - deverá comprometer os resultados do período, particularmente, dos bancos de médio e pequeno portes, estimam os analistas. Segundo o BC, os 50 maiores bancos brasileiros registraram ativos totais de R$ 2,708 trilhões em setembro, um volume 27,4% maior comparativamente a igual mês de 2007. Em relação a junho de 2008, o crescimento é de 9,8%.

Os depósitos totais, claramente concentrados nas dez maiores instituições, subiram 35,8% e 11,9%, respectivamente, para R$ 1,068 trilhão. Já o patrimônio líquido do conjunto dos 50 maiores cresceu 31,3% em doze meses e 15,3% sobre junho, alcançando R$ 241,12 bilhões em setembro. "Esses dados refletem um momento em que a economia ainda estava muito forte. Os números de setembro, já afetados pelo acirramento da crise financeira intensificada na segunda quinzena, não influenciaram muito os resultados porque julho e agosto apresentaram bom nível de atividade, salvando quedas que possam ter ocorrido na segunda metade de setembro", explica Luis Miguel Santacreu, analista de sistema financeiro da Austin Rating.

Santacreu lembra também que esses dados não mostram movimentações importantes do setor ocorridas em novembro, como a compra do Banco Nossa Caixa pelo Banco do Brasil e a fusão entre Itaú e Unibanco. Mas, principalmente, não revelam a acentuada migração dos depósitos para as instituições "consideradas mais seguras", após e em decorrência da crise; a queda no crescimento do crédito; principalmente em outubro e novembro; a interrupção de investimentos do setor; e a conseqüente redução do nível de emprego, em virtude do menor volume de negócios. "Essa estatística será bem diferente ao final de dezembro." O maior desafio tem sido enfrentado pelos bancos de pequeno e médio portes, que ficaram "bem no meio da crise de liquidez", observa.

Aloísio Lemos, analista do setor financeiro da corretora Ágora, afirma que as análises do setor neste último período do ano deverão ser feitas sob duas óticas: a do desempenho dos maiores bancos e a do dos menores. As grandes instituições, diz, estão sendo afetadas pela desaceleração da atividade econômica e pela escassez de funding externo, no entanto, seus resultados serão pouco sensibilizados por esses fatores. "Elas têm bastante musculatura. Tem uma capilaridade maior e a falta de fontes externas acabou atingindo mais os pequenos bancos." Na sua avaliação, os grande continuarão crescendo, mas em ritmo menos intenso do que ocorreu até setembro, puxando a elevação de crédito prevista para 2008, em torno de 30% sobre o estoque do ano passado. "O que mostra desaceleração, pois até outubro cresceu 34%. Os grandes estão mais seletivos e com prazos mais curtos também."

Em 2009, prevê Lemos, os bancos maiores também serão os principais responsáveis pelo aumento próximo de 15% estimado para as operações de crédito. Como já se nota hoje, as grandes empresas devem puxar a alta. "Para elas também os recursos externos estão mais escassos." Como as fontes externas secaram, as instituições de menor porte tiveram um descasamento nos negócios, já que possuem carteiras de crédito de longo prazo e não conseguiam obter recursos por tempo tão extenso assim, o que aumentou o risco da operação. Por isso, restou aos menores reduzir as carteiras de crédito, vendendo parte para fazer caixa (a partir das medidas do governo de liberação do compulsório para propiciar maior liquidez no mercado) e diminuindo as novas concessões, em uma clara intenção de preservação do patrimônio, para manutenção do negócio, em detrimento da rentabilidade, ressalta Lemos. "Com essa redução da atividade já iniciaram o enxugamento das estruturas operacionais, adaptando-as à nova realidade", lembra Santacreu.

Lucro, receitas e spreads

O economista da Austin Rating informa, contudo, que esse cenário não necessariamente implicará em impacto nas receitas do setor, pois o aumento dos custos de captação, conseqüência do menor volume de recursos disponíveis no mercado, e o maior provisionamento para enfrentar a possibilidade de riscos de elevação da inadimplência têm precificado o crédito para cima. "Os spreads estão mais altos." Dados do BC de outubro apontam essa expansão: o spread médio para pessoas física subiu 1,1% no mês, 7,8% neste ano e 5,2% em doze meses; e o de pessoa jurídica, 2,8%, 5,6% e 4,8%, respectivamente.

"Talvez os grandes tenham até receitas crescentes. Já os pequenos estão compensando a redução de receitas com o corte de despesas", diz Santacreu, observando que é preciso verificar ainda se as instituições menores vão utilizar neste trimestre ainda parte dos recursos obtidos com a cessão de carteiras para voltar a normalidade na oferta de crédito. Os números do BC mostram que as receitas de intermediação financeira com operações de crédito e arrendamento mercantil dos 50 maiores somaram R$ 65,69 bilhões em setembro, ante os R$ 44,78 bilhões de um ano antes.

No conjunto, o lucro líquido somou R$ 9,86 bilhões no terceiro trimestre, queda de 14% ante setembro e de 24% em relação a junho. A redução é explicada por fatores individuais e pela maior concentração de eventos extraordinários favoráveis (como venda de participações em empresas) em 2007. Lemos diz que uma queda era esperada e natural, já que a base de comparação era forte e os bancos vinham registrando ganhos elevados há tempos. Para ele, os bancos continuarão a obter bons lucros, porém não na mesma intensidade. Em setembro, os 50 maiores responderam por 86,1% do lucro total do sistema financeiro nacional, por 85,8% dos ativos e por 92,9% dos depósitos.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Iolanda Nascimento)