Título: Setor de crédito imobiliário quer medidas para retomar demanda
Autor: Cigana,Caio
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/12/2008, Brasil, p. A6

Porto Alegre, 9 de Dezembro de 2008 - A freada brusca na demanda por imóveis no último trimestre em virtude das incertezas da economia e da falta de confiança na manutenção do emprego está levando a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Confiança (Abecip) a negociar com o governo federal medidas que possam dar novo estímulo à demanda para uma retomada nos lançamentos. O presidente da entidade, Luis Antonio Nogueira de França, diz que há um mês a Abecip trabalha em conjunto com o Ministério da Fazenda e a Casa Civil buscando saídas para a retração no mercado imobiliário. "Queremos que o governo nos ajude na demanda, já que falta de crédito não existe. O crédito continua disponível, só diminuiu a confiança do consumidor em tomar o crédito", diz França.

Entre as medidas pleiteadas pela entidade junto ao governo federal estão o abatimento do Imposto de Renda para quem adquirir imóveis financiados e o aumento do prazo do pagamento do seguro-desemprego. O abatimento no IR seria proporcional aos juros dos contratos, com validade até 2010, e o pagamento do benefício para quem perde o emprego enquanto paga um imóvel financiado passaria de seis para 24 meses. França, entretanto, preferiu não explicar mais detalhadamente as propostas nem revelar outros pontos em discussão. "As medidas ainda estão muito verdes", ponderou França, que participou ontem de um encontro no Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS).

Embora tenha sido convidado para falar sobre as perspectivas para 2009, França se esquivou de previsões. "Nesse cenário não dá para arriscar. Em 2009 teremos de olhar de trimestre em trimestre", entende o presidente da Abecip. Para ele, somente medidas que devolvam a confiança permitirão a retomada dos lançamentos, mesmo que em um ritmo bem inferior ao verificado no primeiro semestre de 2008. França lembra que estimular novos lançamentos significa a manutenção do ritmo de construção dos projetos imobiliários. "É preciso retomar o lançamento de empreendimentos para manter o ciclo produtivo e garantir o início de obras para os próximos anos", avalia.

Para demonstrar a evolução da construção civil brasileiras nos últimos anos embalada pela maior oferta de crédito, França lembrou que, em 2004, foram 36,5 mil unidades comercializadas, número que deve saltar para algo entre 290 mil e 300 mil este ano. Já a injeção de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) saltou de R$ 4 bilhões em 2004 para algo como R$ 30 bilhões este ano, sendo R$ 25,2 bilhões até outubro. Conforme ainda a entidade, o Valor Geral de Vendas (VGV) dos imóveis financiados em construção soma R$ 8 bilhões este ano, chegará a R$ 14 bilhões em 2009 e R$ 37 bilhões em 2010.

Apesar do percalço momentâneo, França entende que o crédito imobiliário tem muito a evoluir no País. Ele lembra que a relação crédito imobiliário/PIB no Brasil é de apenas 1,8%, enquanto que em países próximos como Chile chega a 18%. "Não é loucura chegarmos a 15% ou 18%. E não será nenhuma bolha", diz França, lembrando as diferenças entre o cenário interno e o verificado nos EUA garantam que o Brasil não corra riscos de uma crise como a do subprime norte-americano.

Com certo otimismo, o presidente do Sinduscon gaúcho, Carlos Alberto Aita, recordou que o setor já passou por momentos piores. Ele lembra que a construção civil atravessou diversos planos econômicos criados para estancar crises e em momentos em que o crédito inexistia tanto para a produção como para a aquisição do imóvel, enquanto hoje o problema está centrado na demanda.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Caio Cigana)