Título: Falta de medidas concretas desaponta centrais sindicais
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/12/2008, Brasil, p. A5

Brasília, 11 de Dezembro de 2008 - Líderes sindicais tiveram ontem uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e saíram sem nenhuma proposta concreta em relação à principal reivindicação do grupo: medidas que garantam a manutenção de empregos. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva Santos, disse que as medidas adotadas até agora pelo governo seguem um caminho correto, mas são "insuficientes". E o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, chegou a ameaçar com uma campanha contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, se os juros não baixarem no ano que vem. "Se o governo não baixar juros, a partir de janeiro vamos fazer uma campanha para derrubar o Meirelles", disse Paulinho.

Apesar de saírem de mãos vazias do encontro, os sindicalistas disseram que não vão aceitar ações que prejudiquem os trabalhadores. Ao comentar a proposta de empresários de suspender o recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o diretor-executivo da CUT, José Lopes Feijó, foi incisivo. "É o limite da cara de pau", disse, ameaçando que, se essa proposta avançar, o resultado será uma greve geral.

Segundo os líderes sindicais, Mantega disse que o governo seguirá mantendo investimentos em políticas públicas e sociais, além das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que foi saudado pelos sindicalistas. Eles argumentaram que empresas que estão recebendo créditos ou outras formas de apoio do governo federal para superar a crise devem, em contrapartida, dar garantia de manutenção de empregos. Segundo Paulinho, Mantega comprometeu-se a anunciar "nos próximos dias" as medidas de apoio à manutenção de emprego e renda.

No entanto, ele disse que a reunião foi apenas "razoável". "Não saímos daqui convencidos de que o governo vá atender nossas reivindicações para manter os empregos", disse Paulinho. Segundo Santos, da CUT, o governo se comprometeu a fazer reuniões nos próximos dias com trabalhadores e empresários em câmaras setoriais para discutir formas de garantir as vagas. Ele disse que na próxima terça-feira haverá a primeira reunião com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com trabalhadores e empresários.

Santos admitiu que esperava para ontem pelo menos o anúncio de mudança na sistemática de cobrança do Imposto de Renda. Há duas propostas, de forma a garantir o poder de compra do trabalhador, disseram os sindicalistas. A primeira é corrigir a tabela do IR em mais do que os 4,5% previstos, conforme já havia sido acertado com as centrais sindicais. Santos disse que a correção tem de ser maior, alegando que a inflação em 12 meses supera os 7%. Já o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, pede atualização de 10%, que seria a média dos índices de reposição salarial obtidos.

A segunda mudança altera, inclusive, o critérios da progressividade. Ou seja, fazer que quem ganha menos pague menos IR. "É algo mais complexo, na medida em que se estudaria novas faixas", admitiu Santos. "Nossa impressão é que ele tem esses números lá, mas não quis anunciar porque disse que tinha que falar com o presidente Lula", afirmou Paulinho. Também participaram da reunião o chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ayr Aliski)