Título: PIB agropecuário desacelera no terceiro trimestre do ano
Autor: Botelho,Gilmara
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/12/2008, Agronegócio, p. B11

São Paulo, 11 de Dezembro de 2008 - Até o terceiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto ( PIB) da agropecuária brasileira acumula crescimento de 6,7% em relação ao mesmo período de 2007. A economia brasileira não acompanhou esse ritmo e registrou taxa de crescimento de 6,4%, aponta os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa vantagem da agropecuária foi garantida ainda no primeiro semestre de 2008 - entre abril e junho, a evolução foi de 9,3%.

Segundo Amanda Tavares, pesquisadora da instituição, 6,4% também foi a taxa apurada para a agropecuária no terceiro trimestre de 2008 quando comparada aos mesmos meses do ano passado - crescimento 0,4% inferior ao do PIB, 6,8%. Em relação ao segundo trimestre, o total produzido pelo setor agropecuário cresceu 1,5%.

De acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) realizado pelo IBGE, a cana-de-açúcar, o café e o trigo foram as que mais contribuíram para esse resultado no período". O Instituto estima crescimento anual de 17,4% para a produção de cana-de-açúcar, 28,3% para o café e 41,3% para o trigo. "No período, a pecuária não registrou cresceu muito. Quem puxou o PIB do setor foi a agricultura".

Os indicadores do agronegócio levantados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) relativo ao terceiro trimestre, ainda não foram consolidados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Mas, de acordo com a pesquisadora Adriana Ferreira Silva, os dados apontados acusam desaceleração no setor de insumos. Tanto os preços quanto os volumes dos produtos negociados recuaram no período.

"No primeiro semestre, o produtor estava disposto a pagar caro pelo insumo porque a commodity compensava. Mas as taxas entre insumos e básico estavam muito desequilibradas. Aos poucos, essas taxas estão se nivelando", avalia Adriana. O Cepea avalia o desempenho do agronegócio a partir de quatro segmentos: insumos, básico (dentro da porteira), indústria e distribuição (fora da porteira).

"O setor de insumos lidera o crescimento do agronegócio este ano, liderança que é mantida no terceiro trimestre, mas a desaceleração já se torna evidente no período e dentro da porteira ela é ainda mais acentuada", afirma. A indústria e a distribuição continuam em baixa no PIB do agronegócio medido pelo Cepea. As fábricas de elementos químicos (álcool), óleos vegetais e os frigoríficos (abate) garantiram um desempenho moderado, "mas as outras registraram um comportamento muito ruim". O pior desempenho foi das usinas de açúcar, que até julho já acumulava queda no nível de preços de 27% ante os valores negociados em 2007, enquanto os volumes comercializados aumentaram apenas 4,11%.

O Cepea calcula o PIB do agronegócio levando em conta os preços e as quantidades de mercadoria e serviços em circulação chegando à uma taxa de crescimento do valor bruto da produção.

De acordo com a CNA, em 2007 o PIB do agronegócio foi US$ 299 bilhões - US$ 86 bilhões vindos da pecuária e US$ 213 agricultura. E o crescimento de 11% outrora estimado para este ano, deve ficar estacionado em 9%. O agronegócio é responsável por cerca de 24% do PIB brasileiro. "2009 começa marcado pela incerteza", opina Carlos Sperotto, presidente da Comissão de Endividamento da CNA.

O também presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) argumenta que o sul do País deve ser responsável por parte da sustentação do crescimento do agronegócio brasileiro. Segundo a Farsul, o PIB da agropecuária gaúcha tende a crescer 4,7% em 2009, podendo variar entre 3,8% e 5,2% conforme a evolução da economia mundial.

Em todas as projeções o desempenho será superior ao de 2008, mas deve ficar abaixo ao de 2007 - quando o crescimento foi de 10,1%. O desempenho favorável de 2009 deve ser alavancado pelas safras de arroz e de soja e por um crescimento no número de abate animais. A Federação prevê que a produção de arroz do Estado em 2009 será de 7,59 milhões de toneladas, ante as 7,36 milhões de 2008. Para a soja, a previsão é de uma produção 16% maior. De grão em grão, o Rio Grande do Sul deve colher 23,4 milhões de toneladas, 1 milhão a mais que na safra anterior. As projeções sinalizam ainda que em 2009 o número de aves abatidas será de 799,13 milhões, ante os 781,16 milhões de 2008. Na suinocultura, a projeção de abate é de 6,971 milhões de animais contra 6,841 milhões de 2008. "Não temos a pretensão de repetir o ano de 2007, mas não vamos para de crescer", afirma Sperotto.