Título: Mineradoras e siderúrgicas já demitiram 25 mil pessoas
Autor: Collet, Luciana
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/12/2008, Indústria, p. C7

11 de Dezembro de 2008 - As mineradoras e siderúrgicas já cortaram pelo menos 25 mil postos de trabalho em todo o mundo, num momento em que a demanda por metais despenca, com ao quadro mundial de retração econômica. No Brasil, não há dados oficiais, já que quase nenhuma das empresas divulgou valores exatos dos cortes, mas as estimativas apontam para mais de 3 mil demitidos, enquanto pelo menos outros 5,5 mil estão ou devem sair em férias coletivas, e sem poder curtir muito os dias de folga, já que é grande o temor que cortes aconteçam quando voltarem a trabalhar (Ver matéria abaixo).

Ontem foi a vez do Rio Tinto Group anunciar que vai fechar 14 mil postos de trabalho, reduzir os investimentos em mais de 50% e vender "ativos significativos". A subsidiária brasileira da empresa, que possui operações em Corumbá (MS), informou que por ora não há impacto da medida no País. Por isso, declarou que mantém o investimento de cerca de US$ 2 bilhões na ampliação na operação sul-matogrossense. No entanto, os cerca de 600 funcionários que trabalham na unidade devem entrar em férias coletivas entre dezembro e janeiro.

A Rio Tinto vinha sendo pressionada a detalhar planos para reduzir o nível de endividamento desde que o preço de sua ação caiu depois que a rival BHP Billiton desistiu de oferta de comprar a empresa por US$ 66 bilhões no mês passado. A dívida líquida consolidada da companhia estava em US$ 42,12 bilhões ao final do primeiro semestre deste ano.

Um mês depois de repelir a tentativa de aquisição hostil, o principal executivo do Rio Tinto, Tom Albanese, disse que a empresa, sediada em Londres, precisa cortar custos "para níveis adequadamente baixos até vermos sinais confiáveis e significativos de uma recuperação dos nossos mercados", que estão sofrendo uma "taxa sem precedentes de deterioração". Albanese disse ontem que o Rio Tinto não vai vender ações e que a empresa abandonou o plano de elevar os dividendos. O fechamento de vagas vai representar uma economia anual de US$ 1,2 bilhão, com custos de rescisão de contratos de trabalho de US$ 400 milhões. O Rio Tinto pretende reduzir os custos operacionais em US$ 2,5 bilhões ao ano em 2010.

"Tempos difíceis pedem medidas drásticas. Eles atenderam todas as partes da equação. Eles entraram definitivamente em modo de sobrevivência, o que é apropriado dadas as circunstâncias do mercado", disse o analista Tim Schroeders, gerente de portfólio da Pengana Capital, em Melbourne. "Haverá impacto generalizado sobre projetos", disse o grupo em comunicado, sem fornecer detalhes. "Alguns projetos serão cancelados e outros, adiados até a recuperação dos mercados."

O Rio Tinto deverá postergar US$ 32 bilhões em novos projetos e expansões no ano que vem, disse o Credit Suisse Group AG, no último dia 2. A mina de minério de ferro de Simandou, na Guiné, de US$ 6 bilhões; a expansão, ao custo de US$ 7 bilhões, das minas de minério de ferro na região de Pilbara, na Austrália Ocidental, e a ampliação de US$ 1,8 bilhão na capacidade de extração de alumina, em Yarwun, podem estar entre os projetos adiados, escreveu Jeremy Gray, analista do Credit Suisse.

As ações do Rio Tinto deram um salto de até 14% na Bolsa de Londres, reduzindo sua queda deste ano para 74%, depois de a mineradora informar que vai retrair seu quadro de funcionários em 13% e cortar o endividamento líquido em US$ 10 bilhões até o final de 2009. A empresa também vai diminuir os investimentos em novos projetos de US$ 9 bilhões para US$ 4 bilhões, enquanto procurará potenciais parceiros para custear o desenvolvimento de alguns ativos.

Ao mesmo tempo em que poupou o Rio Tinto, operante há 135 anos, de uma compra por parte da australiana BHP, Albanese abriu mão da oportunidade de vender o grupo por até US$ 194 bilhões num momento em que o mercado altista das commodities chegou a um pico. Atualmente o Rio Tinto tem valor de mercado de US$ 31,6 bilhões e US$ 38,9 bilhões em endividamento.

Também ontem a canadense de níquel e cobre FNX informou a demissão de 307 funcionários com o fechamento de uma operação de níquel em Ontário.

A decisão da Rio Tinto se segue à da Companhia Vale do Rio Doce, que na semana passada informou a demissão de 1,3 mil pessoas em todo o mundo e férias coletivas para outros 5,5 mil funcionários.

A decisão se segue à das usinas de aço que reduziram produção e anunciaram demissões. Só a ArcelorMittal, maior siderúrgica mundial, deve cortar 9 mil postos de trabalho em todo mundo. No País, não foram informadas demissões, ainda, mas mais de 1 mil pessoas devem entrar em férias coletivas

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7)(Luciana Collet, Reuters e Bloomberg News)