Título: Taxas de juros sobem mesmo com manutenção da Selic
Autor: Rosa,Silvia
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/12/2008, Finanças, p. B1
São Paulo, 12 de Dezembro de 2008 - Mesmo com a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% desde setembro, as taxas de juros voltaram a aumentar com o agravamento da crise externa, que provocou maior dificuldade de acesso ao crédito pelas instituições financeiras, e aumento dos riscos de inadimplência com o desaquecimento da economia em 2009.
A taxa de juros média geral para pessoa física apresentou a maior elevação, de 0,07 ponto percentual, no mês de novembro (0,93%), representando aumento de 1,35% em 12 meses, passando de 7,54% ao mês em outubro deste ano para 7,61% ao mês em novembro, sendo esta a maior taxa de juros média desde novembro de 2005, segundo dados divulgados ontem pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Já a taxa de juros média geral para pessoa jurídica apresentou uma elevação de 0,04 ponto no mês (0,90%), correspondente a um aumento de 1,13% em 12 meses, passando de 4,43% ao mês em outubro para 4,47% ao mês em novembro, a maior taxa de juros média desde julho de 2005.
O diretor-executivo da Anefac, Andrew Storfer, afirma que a redução na taxa Selic, que caiu 30,38% desde setembro de 2005, de 19,75% para 13,75%, não tem se refletido nas taxas de finais. "As instituições financeiras elevaram suas taxas de juros por enxergarem um aumento do risco de inadimplência com a desaceleração da economia e queda do emprego e da renda, depois de um cenário de crédito farto", diz.
No entanto, o analista da Austin Ratings, Luís Miguel Santacreu, destaca que uma queda na taxa Selic não será necessariamente repassada para os tomadores finais. "O custo de captação é apenas um dos componentes do spread bancário." Segundo Santacreu, a taxa de inadimplência responde por 37,35% da composição do spread bancário, segundo estudo divulgado pelo Banco Central. "Os bancos têm elevado os sprea-ds desde setembro, com o agravamento da crise externa e aumento das incertezas em relação ao cenário econômico", diz.
Santacreu destaca que medidas como a aprovação do cadastro positivo pelo governo poderiam ajudar a reduzir essas taxas, ao cobrar juros diferenciados de acordo com o perfil de risco do cliente. A redução de alguns tributos que incidem sobre as operações bancárias, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), segundo Satacreu, também poderia contribuir para a queda do spread.
Ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a redução da alíquota de IOF de 3% para 1,5% ao ano, com manutenção da taxa de 0,38% adicional. Segundo Mantega, isso deve gerar uma diminuição de 4 pontos no spread bancário das operações para pessoa física.
Para amenizar a contração de liquidez e elevação do custo de funding dos bancos com a crise financeira, o governo reduziu os depósitos compulsórios, dinheiro que os bancos devem recolher junto ao BC, e que respondem por 13,5% da composição do spread bancário.
O diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho, ressalta que o Brasil tem o maior spread bancário do mundo, cerca de sete vezes superior à média de 42 países, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) relativos a 2007. "O alto custo de capital é um dos fatores que impactam a competitividade das empresas brasileiras", afirma.
Ele destaca que os bancos têm mantido o spread alto mesmo não havendo forte elevação da inadimplência. A taxa de inadimplência, referente a atrasos superiores a 90 dias, atingiu 1,7% nas carteiras de pessoas jurídicas em outubro, queda de 0,6 ponto em 12 meses, e alcançou 7,4% nas carteiras de pessoas físicas, aumento de 0,4 ponto. no período, segundo o BC.
A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff disse que o governo pediu a revisão dos juros dos empréstimos concedidos pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Ver também pág. B2 e B4(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Silvia Rosa)