Título: Mercado teme bolha com título dos EUA
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Fonte: Gazeta Mercantil, 12/12/2008, Finanças, p. B4
Nova York, 12 de Dezembro de 2008 - A alta nos títulos do Tesouro americano, que pressionaram as taxas de retorno dos papéis abaixo de zero porcento nesta semana, eleva as preocupações de que o mercado de US$ 5,3 trilhões para os papéis do governo americano seja uma bolha prestes a estourar. Os investidores que buscam segurança de perdas em ações e mercados de crédito cobraram juro zero do Tesouro quando o governo emitiu US$ 30 bilhões em notas de quatro semanas em 9 de dezembro, no mesmo dia que as taxas de notas de três meses se tornaram negativas pela primeira vez desde que o governo norte-americano começou a emitir títulos de dívida, em 1929. As rentabilidades dos bônus de dois, dez e 30 anos registraram baixa recorde neste mês.
"Os títulos do Tesouro têm certas características de bolha, certamente a nota do Tesouro tem", disse Bill Gross, co-diretor de investimentos da Pacific Investment Management, sediada em Newport Beach, Califórnia, que supervisiona o maior fundo de bônus do mundo. "Uma nota do Tesouro sem remuneração está superestimada", disse ele ontem em uma entrevista para a Bloomberg Television.
Os bônus de 30 anos acumularam retornos de 23,6% desde setembro, incluindo os juros de reinvestimento, mais do que em qualquer acumulado do ano desde os 34,1% em 1995, de acordo com os dados de índices do Merrill Lynch. Os bônus do Tesouro de todos os vencimentos acumularam em média alta de 11,9% este ano, comparado com queda de 39% no índice Standard & Poor''s 500 e perda de 15,3% no índice de títulos corporativos mais amplo do Merrill Lynch.
Elevar a oferta de títulos governamentais para pagar pelo resgate da economia e do sistema financeiro tem feito pouco para restringir a demanda. Karthik Ramanathan, secretário assistente do Tesouro, chefiado por Henry Paulson, disse em uma palestra proferida na quarta-feira em Nova York que o governo norte-americano pode apresentar novos métodos de financiamento para atender as necessidades de captação de US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões no ano fiscal com término em setembro.
Enquanto a oferta cresceu, as taxas de retorno sobre as notas de três meses caíram 2,89 pontos percentuais no ano passado para 0,01%, depois de serem negociadas a -0,05% em 9 de dezembro. A taxa de retorno sobre notas de quatro semanas despencou depois de alcançar um auge de 5,175% em 29 de janeiro de 2007. A taxa de retorno da nota de três meses permaneceu inalterada ontem.
Um investidor que comprou US$ 1 milhão em notas de três meses a taxa de fechamento de 0,01% negativo em 9 de dezembro vai realizar uma perda de US$ 25,56 quando os papéis vencerem. As notas são emitidas com desconto e valorizadas ao par no vencimento.
Mesmo com as taxas de retorno baixas, o governo recebeu lances de quatro vezes a quantia das notas de quatro semanas leiloadas nesta semana, segundo o Tesouro. "Há basicamente demanda insaciável por notas do Tesouro", disse Ira Jersey, estrategista de juros do Credit Suisse. "Há um série de motivos para isso, não só ansiedade pela inflação e o que está ocorrendo com os ativos arriscados, mas há também muito dinheiro que não quer assumir nenhum risco de crédito", disse.
O apetite por papéis do Tesouro americano aumentou quando as empresas financeiras relataram US$ 984 bilhões em perdas e baixas contábeis relacionadas ao colapso dos empréstimos hipotecários subprime desde o início de 2007. As perdas congelaram os mercados de crédito e ajudaram a lançar os EUA, a Europa e o Japão na primeira recessão simultânea desde a Segunda Grande Guerra.
Gross disse que se arrepende de não ter comprado papéis do Tesouro no ano passado. "Se pudéssemos voltar 12 meses e soubéssemos o que sabemos agora, todos os nossos recursos seriam aplicados nos papéis do Tesouro", disse ele na entrevista.
David Rosenberg, economista-chefe na América do Norte do Merrill Lynch, disse na semana passada que a procura por papéis do Tesouro dos EUA havia alcançado a fase de " bolha" , como ocorreu com as ações tecnológicas de 2000 e com o mercado imobiliário seis anos mais tarde.
A especulação de que a recessão vá resultar em deflação, ou em uma queda prolongada dos preços, também leva à demanda por títulos do Tesouro. Os preços ao consumidor caíram 1% em outubro, a maior queda desde que os registros começaram em 1947, e podem cair 1,2% em novembro, de acordo com uma pesquisa realizada pela Bloomberg. A deflação pode piorar a queda na atividade ao tornar as dívidas mais difíceis de serem pagas e ao se opor ao impacto dos cortes de impostos realizados pelo Fed. A deflação também torna os títulos mais valiosos, mesmo com os rendimentos em baixa recorde.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Bloomberg News)