Título: FMI quer discutir política dos ricos
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Fonte: Gazeta Mercantil, 21/09/2004, Internacional, p. A-10
Diretor-gerente diz também que o fundo continuará a socorrer países que enfrentam dificuldades. O novo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Rodrigo Rato, afirmou ontem que o organismo assumirá um papel maior na discussão das políticas dos países mais ricos do mundo, caso representarem riscos para a economia global. E ele se mostrou mais ousado no discurso para o Conselho de Relações Internacionais, alertando que os desequilíbrios nos Estados Unidos, Japão e Europa representam uma grande ameaça no médio prazo para a economia mundial e pediu que as autoridades solucionem esse fatores. Foi seu primeiro pronunciamento político desde que assumiu o cargo, em junho. Referiu-se ao Brasil como tomador "excepcional" que está fazendo progressos, e citou México e Coréia do Sul como bons exemplos dos grandes pacotes de ajuda.
O moderador Paul Volcker, ex-presidente do Federal Reserve, ressaltou que é preciso "uma certa quantidade de coragem" para mexer com esses gigantes, que não costumam pedir conselhos para instituições como o FMI. Rato afirmou que o FMI poderá usar as revisões anuais dos países membros, entre outros relatórios, para alertar o público e mercados financeiros de desequilíbrios no comércio global.
Sobre os mercados emergentes, que têm conseguido crescente participação na economia global, Rato acredita que os países deveriam aumentar os esforços para acabar com a fraqueza da economia e trabalhar para acelerar a produtividade, criar empregos e atacar a pobreza. O fundo também continuará a fornecer grandes pacotes de ajuda a países em crise financeira, disse Rato. "O acesso excepcional ao crédito deverá ser restringido, mas também devemos admitir que grandes pacotes de ajuda não podem, e, na realidade, não devem ser descartados", afirmou.
O Fundo começou a fazer os chamados empréstimos excepcionais na década 90, quando aboliu os limites de empréstimos e forneceu US$ 18 bilhões ao México na esteira da crise da tequila.
A prática de empréstimos excepcionais provocou uma mudança no balanço patrimonial do FMI porque os empréstimos concedidos a tomadores excepcionais como Brasil, Turquia e Argentina, agora perfazem 70% dos US$ 107 bilhões dos créditos pendentes.
Um calote de qualquer dos três pode tornar mais difíceis empréstimos a outros países que estejam enfrentando crise. Em 1980, 16 países constituíam 70% dos créditos pendentes do Fundo, que tem 184 países membros.
Contudo, Rato afirmou que o Fundo deverá ter diretrizes claras para usar quando conceder financiamentos excepcionais. "O Fundo deverá também estar preparado para dizer não, amparado em julgamentos claros e objetivos fundados na compreensão clara de decisões de governos", disse. O discurso, que é feito antes das reuniões anuais do Fundo nesta semana, tratou de uma série de outros pontos como a probabilidade de limitar os empréstimos de longo prazo para países pobres e a ameaça de déficits orçamentário e da balança comercial dos EUA. Criado em 1944 para promover o crescimento, o FMI tem admitido erros no processo de concessão de empréstimos excepcionais, no caso da Argentina, que em 2001 deu o calote em cerca de US$ 95 bilhões da sua dívida.
O fundo continuou a emprestar para a Argentina, elevando os compromissos para US$ 22 bilhões, tornando o país o terceiro maior tomador, depois da Turquia e do Brasil. Rato citou México e Coréia do Sul como exemplos em que os grandes pacotes de recuperação valeram a pena. "Em países como México e Coréia, a ajuda do Fundo apoiou a rápida recuperação da confiança e o desempenho econômico".
Também mencionou o Brasil como um tomador excepcional, que faz progressos. O credor aprovou um recorde de US$ 30 bilhões para o Brasil em 2002. A economia apresenta a expansão mais rápida em quatro anos e o déficit caiu para 3,8% do PIB, no período de 12 meses até junho, em comparação com os 4,1% de 12 meses até maio