Título: O dinheiro, na verdade, mudou de mãos
Autor: Miguel,José Aparecido
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/12/2008, Brasil, p. A6

São Paulo, 15 de Dezembro de 2008 - Eleito pela ADVB-SP (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil) como a "Personalidade de Visão Global 2008", o empresário Mario Garnero, presidente do Conselho de Administração do Grupo Brasilinvest, tem sido "um incansável propagandista e caixeiro-viajante do Brasil no exterior", ao longo das três últimas décadas. A definição é do presidente da ADVB-SP, Miguel Ignatios, ao falar da homenagem que a entidade prestará a Garnero hoje, a partir das 20 horas, no Sheraton São Paulo WTC Hotel, no Brooklin Novo, em São Paulo.

O empresário, que preside também a Associação das Nações Unidas Brasil (Anubra) e o Fórum das Américas, é reconhecidamente uma das personalidades com a maior rede de relacionamento empresarial no Brasil e no exterior. Criador do Brasilinvest, grupo especializado em assessorar empresários internacionais em negócios no Brasil, Garnero tem uma agenda pessoal de 15 mil nomes, que pode acionar em português, inglês, alemão, francês, italiano e espanhol, as línguas que fala. "É claro que as listas telefônicas dos diferentes países têm milhões de nomes, são imensas. O importante é que você tenha a resposta do outro lado da linha", comenta, depois de revelar sua percepção sobre a crise financeira internacional: "Cerca de 70% dos US$ 4,5 trilhões que, dizem, desapareceram do mercado estão em outras mãos. Quem comprou papéis na Bolsa em desvalorização vendeu também a valorização. O sistema bancário, em período de falências em todo o mundo, morais ou reais, não está reciclando este dinheiro, que ainda voltará ao mercado".

Mario Garnero deu a seguinte entrevista:

Gazeta Mercantil - O mundo terá ainda muitos solavancos com a crise econômica internacional, agravada nos Estados Unidos nos últimos três meses?

Os Estados Unidos vão se recuperar em dois anos e meio, pois têm capacidade gerencial, tecnológica e intelectual na área econômico-financeira. Esta não é a primeira crise que enfrentam nos últimos anos. Já passaram pelas dificuldades da quebra do padrão ouro, com Richard Nixon, pela crise de liquidez dos bancos, no período Ronald Reagan, e, nos anos 1990, pela recessão enfrentada no governo de George Bush, pai. Os Estados Unidos vão sair fortalecidos da crise, reestruturando seu sistema econômico-financeiro, reordenando sua indústria, como a automobilística, que é incompatível com o desenvolvimento sustentável que o mundo precisa ter, num cenário em que a energia é essencial. Mas os Estados Unidos e o mundo não serão os mesmos de hoje. Haverá um ajustamento econômico, político, social, ecológico.

Gazeta Mercantil - Na contramão de países diretamente afetados pela crise, o Banco Central manteve a taxa de juros elevada - a mais alta do mundo. Como o senhor vê esta política?

Chegamos este ano, até o terceiro trimestre, a um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,8%, que é um bom indicador. Portanto, o rumo brasileiro está razoavelmente correto. A política de juros da moeda forte permite o renivelamento da sociedade brasileira, pois a inflação fez no País, durante 40 anos, ilhas de pobreza intoleráveis num país rico.

Gazeta Mercantil - Diante do cenário atual da economia, o que o senhor espera de 2009?

O Brasil terá um crescimento econômico menor do que 3%. A nossa economia vai se beneficiar da própria força inercial da expansão que vinha tendo e das medidas que o governo está adotando, especialmente na área de crédito. Não seremos os únicos a crescer. A Índia vai ter uma expansão superior a 5% e a China, além de 6%. São números razoáveis, considerando que países como o Japão e os da Europa, além dos Estados Unidos, apresentarão índices negativos.

Gazeta Mercantil - A crise econômica pode contaminar o ambiente político do País?

A política dificilmente será arranhada pela crise econômica, em razão de nossa estabilidade democrática. Porém, a temperatura será mais elevada, nada de grave, porque 2009 já é um ano pré-eleitoral.

Gazeta Mercantil - Sua experiência empresarial aconselha o quê em tempo de crise?

Devemos tomar a crise em suas exatas dimensões e saber qual o reflexo em nossos negócios. Como disse, 70% do dinheiro que, dizem, desapareceu na crise, na verdade mudou de mãos e voltará ao mercado.

Gazeta Mercantil - O senhor está sendo homenageado pela ADVB pelo trabalho de relações internacionais pelo Brasil. O que temos a fazer no exterior nos próximos anos?

Temos de conquistar novos mercados para os produtos e serviços brasileiros. Precisamos desvincular o País de amarras políticas, que não lhe permitem voar ao desenvolvimento com o tamanho total de nossas asas. O mundo acolhe o Brasil pelo seu peso específico na economia e não por valor ideológico.

Gazeta Mercantil - Quais os cinco grandes negócios que mais marcaram sua vida empresarial?

São os pioneiros, como a concretização do primeiro projeto de casas populares no Brasil, financiado pelo Banco Nacional de Habitação (BNH). Fizemos também, na Telematic, o primeiro computador pessoal, o PC, do país. Na NEC, lançamos o primeiro telefone celular aqui. Outro fato marcante foi ter assinado o protocolo de lançamento do carro a álcool no Brasil, quando presidi a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Agora estamos trabalhando em um grande projeto de etanol e biodiesel.

Gazeta Mercantil - Há outros empreendimentos em curso?

O Grupo Brasilinvest detalha atualmente um projeto imobiliário de 10 milhões de metros quadrados na região Sudeste.

Gazeta Mercantil - Que grandes problemas de infra-estrutura o senhor vê no País?

O Brasil, criticamente, é um grande exportador de buracos e capatazias. Estamos, creio, entre as sete maiores economias do mundo e temos um PIB de US$ 1,5 trilhão, mas não cuidamos bem de nossa infra-estrutura. Dependemos dela para reduzir custos e conquistar mercados internacionais, com uma meta de exportar US$ 300 bilhões por ano. Isso exige portos, estradas, ferrovias compatíveis com o esforço do setor privado para exportar.

Gazeta Mercantil - O senhor é considerado um vitorioso no mundo dos negócios? Teve algum que deixou de acontecer e o frustrou?

Acredito muito na democracia. Elege-se quem recebeu 50% dos votos mais 1 voto. Se eu acertei 50% mais um dos meus negócios, então estou eleito. Os negócios que perdi, eu os esqueci.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(José Aparecido Miguel)