Título: Conflito em Gaza altera as decisões anticrise nos EUA
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/01/2009, Editoriais, p. A2

7 de Janeiro de 2009 - cape 1,O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou ontem que a "perda de vidas civis em Gaza e em Israel é fonte de profunda preocupação". É a manifestação mais efetiva do futuro presidente sobre o conflito. Merece atenção que até domingo Obama repetia que não participaria das negociações de um possível cessar-fogo no Oriente Médio antes da posse. A evolução no envolvimento de Barack Obama está relacionada à ofensiva por terra das Forças Armadas israelenses contra o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza. Os objetivos de Israel são claros: impedir o Hamas de lançar foguetes no sul do país, e não uma mudança de regime em Gaza, "porque isso é um problema palestino", como assegurou o porta-voz da chancelaria israelense.

A posição dos EUA é bem diferente, uma vez que a questão palestina, por muitos motivos, também é um problema norte-americano. Obama precisou alterar seu silêncio (sempre escudado na frase de que os EUA só têm um presidente de cada vez) porque o conflito no Oriente Médio, depois da ofensiva terrestre israelense, alterou a hierarquia de problemas do presidente eleito da nação mais poderosa do planeta. A crise econômica cedeu espaço na agenda de prioridades de Obama para o conflito árabe-israelense. A rigor, toda a esperada presença na mídia pela divulgação do programa de estímulo à economia, o "Plano Americano de Recuperação e Reinvestimento", ficou aquém do previsto. A prioridade desse programa era a criação de três milhões de empregos, com anúncio de redução de impostos, que deve beneficiar até 95% dos trabalhadores norte-americanos. O anúncio dessas informações e promessas, apesar de toda a relevância, não ganhara as manchetes cedidas ao conflito no Oriente Médio. A preocupação do presidente eleito caminhou na direção percorrida pela opinião pública do país.

É fato que o componente petróleo está na origem dessa alteração de prioridades. Os novos dramas no Oriente Médio superaram as expectativas por soluções da crise econômica. Com certeza, o volume da oferta da commodity na região explica essa troca de posições com a crise financeira. A rigor, na origem de qualquer solução dessa crise está a devolução da confiança ao mercado. Ora, o agravamento da situação bélica no Oriente Médio, com o possível envolvimento de novos atores, especialmente o Irã, atrasará a reconquista dessa confiança pelos agentes econômicos. Sem esquecer que as decisões de real politik que aguardam o presidente Obama são muito diferentes das análises e posições emitidas ao longo da campanha eleitoral. Os EUA têm compromissos de Estado com diversos aliados que não serão rompidos pelo novo governo democrata. A aliança com Israel tem componentes estratégicos de tal ordem para Washington que independe da vontade do ocupante da Casa Branca.(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2)