Título: Ex-comunista, ex-industrial e agora um milionário
Autor: Guimarães,Durval
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/01/2009, Brasil, p. A8

5 de Janeiro de 2009 - Prefeito mais rico do Brasil, a declaração de bens de Lacerda, apresentada ao Tribunal Regional Eleitoral no primeiro semestre do ano passado informava um patrimônio de R$ 55 milhões, dos quais R$ 33 milhões se encontravam aplicados em fundos de investimento. Dias atrás, em sua nova declaração apresentada à Justiça eleitoral, o seu patrimônio permanecia com o mesmo valor, a despeito de toda a crise financeira mundial que atingiu, sobretudo as bolsas de valores. "Isso quer dizer apenas que sou um investidor tradicional e que não aplica seus recursos em ações", declarou o político.

Na realidade, o patrimônio do novo prefeito de Belo Horizonte foi reduzido em R$ 4 milhões, por conta de doações à sua própria campanha. Lacerda é hoje um ex-industrial que vendeu duas empresas de telefonia, a Batik e a Construtel para se dedicar a uma vocação invencível que é a política. Já aos 17 anos e ainda na condição de estudante colegial, o prefeito entrou para a luta armada, participou de assaltos a bancos e se tornou preso político por quase quatro anos.

De volta à liberdade, o prefeito montou uma construtora de instalação de cabos de telefonia, atividade que revelou sua fantástica capacidade empresarial. Sua principal empresa, a Construtel chegou a faturar US$ 500 milhões por ano. Mesmo na condição de homem de negócios, jamais se esqueceu dos seus quase cem companheiros de cárcere, entre homens e mulheres, na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora. A todos estendeu a mão milionária, por meio de empregos e doações.

Um deles foi o ex-prefeito Fernando Pimentel (PT) que retribuiu essa generosidade, agora, ao patrocinar sua candidatura à prefeitura de Belo Horizonte, numa surpreendente aliança com o governador Aécio Neves (PSDB). Antes, em 2002, Lacerda abraçou a campanha do deputado federal Ciro Gomes à presidência da República, por determinação do partido ao qual era simpatizante, porém sem filiação, o Partido Popular Socialista (PPS), que sucedeu ao seu velho Partido Comunista Brasileiro.

O então o industrial pagava, sigilosamente, as contas e financiava as campanhas de candidatos da seção mineira da agremiação. Como de costume, colocou novamente a mão no bolso e desta vez doou R$ 1 milhão, em espécie e equipamentos de informática, para a campanha do cearense. Ciro se encantou com a generosidade do doador a quem não o conhecia e o levou para o Ministério da Integração Nacional como vice-ministro. Mais tarde o recomendou ao seu amigo Aécio Neves para ocupar a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, de onde saiu para disputar a prefeitura de Belo Horizonte, pelo PSB, legenda à qual se filiou no ano passado para concorrer à prefeitura da capital mineira.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(D.G.)