Título: Em 2009 será dada largada das promessas para a era pós-Lula
Autor: Correia,Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/01/2009, Brasil, p. A11

Brasília, 5 de Janeiro de 2009 - Quem prestou um mínimo de atenção nos palanques de maior destaque nas últimas eleições municipais - sobretudo na movimentação do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e na superexposição da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff - assistiu à montagem do tabuleiro político que servirá de cenário para 2009.

Parte do cacife de cada legenda, governista ou de oposição, foi dado durante a eleição de prefeitos e vereadores, em 2008. Foi, por exemplo, o saldo de 1.129 prefeitos eleitos que deu ao PMDB a posição de "noiva" - o aliado mais disputado entre PT e PSDB para as eleições do próximo ano. Dado esse capital político já nas mãos dos partidos, a maior parte do jogo da sucessão presidencial será definida nos dez primeiros meses do ano, uma vez que em outubro encerra-se o prazo de filiação partidária para as eleições de 2010.

Aos números, somam-se os apoios costurados no período. É nessa lógica que o governador Aécio Neves começa, neste ano, a colher os frutos plantados em 2008 com vistas a 2010. Aécio percorreu 16 estados, em campanha por prefeitos do PSDB, em uma tentativa de conter o avanço do governador de São Paulo, José Serra. Os dois pré-candidatos tucanos à Presidência da República aumentaram sua presença no Congresso e se envolveram na disputa pelas presidências das duas Casas do Parlamento de olho em um possível apoio do PMDB. Aécio, contudo, saiu na frente na costura de alianças. O governador mira nos governistas PSB, PTB, PDT e PP para construir alianças para embasar sua candidatura.

"Um dos maiores problemas enfrentados pelo PSDB nas duas últimas eleições presidenciais foi a falta de um espectro mais amplo de aliados", avalia um assessor próximo de Aécio, com trânsito no Palácio da Liberdade. "De um lado, em 2008, o governador se firmou dentro do partido, apoiando candidatos a prefeito. Agora, ele busca a costura dessas alianças com partidos menores para fazer disso sua diferença na disputa com José Serra."

Dilma x DilmaSe os tucanos se preparam para a batalha entre Aécio e Serra, no PT Dilma Rousseff terá de enfrentar a si mesma para consolidar sua posição de candidata ungida pelo presidente Lula.

A mudança de imagem vai muito além do retoque facial feito no fim de 2008. Como já foi vaticinado pelo presidente, Dilma terá que abraçar um perfil mais político, viajar pelo país, conceder entrevistas e se tornar mais flexível no trato com aliados para viabilizar sua candidatura.

Ao lado da empreitada pessoal da ministra da Casa Civil, corre a estratégia do governo para fortalecer seu nome. Diante de um placar fortemente favorável a José Serra nas pesquisas de intenção de votos - no levantamento CNT/Sensus, o governador paulista aparece com 46,5% dos votos contra 10,4% de Dilma Rousseff - Lula tem citado com freqüência a interlocutores a chamada "operação Pernambuco".

Trata-se de uma alusão à eleição para o governo do estado em 2006, quando os então candidatos Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB) disputaram contra o governador Mendonça Filho, do antigo PFL. O governador era o favorito nas pesquisas, mas o apoio de Lula aos dois candidatos opositores sangrou o capital político de Mendonça Filho. Levado ao segundo turno, Eduardo Campos absorveu os votos de Humberto Costa e elegeu-se governador.

A fórmula defendida por Lula para ser aplicada na sucessão presidencial de 2010, portanto, inclui um segundo candidato governista. É nesse contexto que se insere o súbito renascimento do nome do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) para a disputa pela sucessão de um dos presidentes mais populares da história republicana do Brasil.

Algo que, nos bastidores, preocupa Dilma Rousseff. "Ciro tem hoje recall maior do que o de Dilma nas pesquisas, aparece à frente de Aécio e tem vontade zero de ser vice de quem quer que seja", adverte o líder do PSB na Câmara, deputado Márcio França (SP). " Além disso, ele já foi testado nas urnas, algo que Dilma não foi. É um nome que dificilmente ficará nas sombras dessa eleição.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Karla Correia)