Título: Previsão indica dura queda no superávit comercial
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/01/2009, Editoriais, p. A2

8 de Janeiro de 2009 - cape 1,O comércio exterior brasileiro deve enfrentar um ano especialmente difícil. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) desenhou cenário, divulgado anteontem, mostrando que o Brasil deve registrar em 2009 uma queda de US$ 34,8 bilhões na receita das exportações, em comparação com o obtido em 2008. A corrente de comércio acompanhará a tendência de queda, com as importações em US$27,7 bilhões. Desse modo a corrente de comércio deve recuar 16,7% em relação a 2008, caindo do US$ 371 bilhões para US$ 309 bilhões, nas projeções da AEB para 2009. Nesse cenário, o superávit deve também deve cair para US$ 17,1 bilhões, 30,8% abaixo dos US$ 24,1 bilhões alcançados em 2008. Todo esse recuo na corrente de comércio terá forte impacto na economia brasileira: a participação do comércio exterior no PIB deve cair dos 29,5% atingidos em 2008 para 24,8% neste ano.

O governo tem consciência do alto custo econômico dessa queda no comércio externo. Aliás, as previsões da AEB coincidem com as estimativas oficiais. O quadro é tão preocupante que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior evitou fazer previsões para o resultado de 2009 por conta das incertezas em relação aos preços das commodities agrícolas e do petróleo, na versão oficial. Por essa razão, o ministério defendeu a adoção de novas medidas de incentivos ao setor exportador, desde reduções da carga tributária até melhorias nos custos logísticos para o material exportado. Porém, sem explicar como, o ministério recomendou também que os exportadores brasileiros passem a usar a criatividade para diversificar e melhorar a pauta de exportação.

O curioso é que o ministério pede criatividade e, no entanto, propõe a mesma receita usada nos últimos anos para recuperar expansão na corrente de comércio: como a situação será difícil para todos os países, "mas deve piorar mais para os desenvolvidos, os exportadores devem se voltar mais para os países em desenvolvimento". Neste ponto está o maior problema. Merece registro, por exemplo, que o saldo comercial recuou 21,7% em 2008, em relação a 2007, apesar de todas as facilidades inerentes aos anos de vacas gordas. No ano passado, o saldo comercial fechou 38,2% menor que no ano anterior. A política de dar total atenção aos países em desenvolvimento está na raiz dessa redução, mesmo quando todos os países estavam em franca expansão econômica. Basta observar que no âmbito do Mercosul ocorreu em 2008 expansão de 23,7% nas exportações brasileiras, mas as importações do bloco aumentaram 27%, sempre na comparação com 2007. O saldo foi ainda mais deficitário para o Brasil na relação com a União Européia: enquanto as exportações cresceram 19,1%, as importações feitas do bloco europeu avançaram 33,8%, sempre ante o ano anterior.(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2)